Mais uma vítima de Harvey Weinstein, o todo-poderoso produtor da Miramax?

Após destacar-se em "O Bebé de Macon" (1993), de Peter Greenaway, a carreira de Julia Ormond parecia em ascensão e destinada ao estrelato.

No espaço de dois anos, a atriz britânica surgiu ao lado de Brad Pitt, Anthony Hopkins, Sean Connery, Richard Gere e Harrison Ford em grandes produções de Hollywood como "Lendas de Paixão" (1994), "O Primeiro Cavaleiro" (1995) e numa nova versão de "Sabrina" (1995), onde foi apresentada como a "sucessora" de Audrey Hepburn... e uma nova Julia Roberts.

Mas "O Primeiro Cavaleiro" e "Sabrina" não foram os êxitos que os estúdios estavam à espera e após uma paragem, a atriz fez uma paragem e só regressou para mais dois filmes, "Mistério na Neve" (1997) e "O Barbeiro da Sibéria" (1998), antes de praticamente desaparecer do radar da indústria. Um papel secundário discreto em "O Estranho Caso de Benjamim Button" (2008), num reencontro com Brad Pitt, foi uma exceção.

Esta quarta-feira, um processo apresentado no Supremo Tribunal de Nova Iorque contra os estúdios Disney e Miramax, e CAA, a maior agência de talentos de Hollywood, denuncia uma alegada agressão sexual do produtor Harvey Weinstein em 1995 e ações de encobrimento que terão afetado a carreira.

Julia Ormond em 2019

Segundo o Deadline, Julia Ormond alega que o produtor, agora na prisão a cumprir uma pena de mais de 20 anos por crimes sexuais, a forçou a praticar sexo oral após um jantar de negócios em Nova Iorque e que a CAA e a Disney, proprietária da Miramax, conheciam o comportamento predatório e não fizeram nada para a proteger.

A atriz acrescenta que os seus representantes a convenceram a não apresentar queixa contra o patrão da Miramax para evitar a sua vingança. Apesar disso, este retaliou e a Miramax rescindiu o contrato para projetos em desenvolvimento, ao mesmo tempo que a CAA a transferiu para um agente mais jovem e inexperiente, que não estava mais trabalhar em seu nome, reduzindo e alterando substancialmente a sua representação na indústria.

Embora não sejam citados diretamente como parte do processo, surgem várias vez os nomes dos seus antigos agentes Bryan Lourd e Kevin Huvane, e dos maiores executivos na Disney na época, Jeffery Katzenberg e Michael Eisner, um quarteto ainda com bastante poder na indústria.

Apresentada 28 anos após os alegados factos por agressão (contra Weinstein), supervisão e retenção negligente (contra Miramax e Disney), negligência (CAA) e violação do dever fiduciário (contra CAA), a ação legal é possível graças à Lei de Sobreviventes Adultos do estado de Nova Iorque.

"Depois de viver durante décadas com as memórias dolorosas das minhas experiências nas mãos de Harvey Weinstein, estou grata a todos os que arriscaram falar. A sua coragem e a Lei dos Sobreviventes Adultos abrem-me uma janela de oportunidade e uma forma de esclarecer como pessoas e instituições poderosas, como os meus agentes na CAA, Miramax e Disney, permitiram e proporcionaram a cobertura para Weinstein me atacar e a muitas outras. Procuro uma forma de fechar um capítulo pessoal ao responsabilizá-los para reconhecerem a sua parte e a profundidade dos seus danos, e espero que toda a nossa maior compreensão conduza a mais proteções para todos nós no trabalho", disse a atriz num comunicado divulgado pelos seus representantes legais.