Um aguardado julgamento começa esta semana numa histórica cidade do Velho Oeste americano, com ambas as partes em busca de justiça por um tiro fatal.

Mas se o julgamento de Alec Baldwin por homicídio involuntário parece um enredo de Hollywood, as vítimas, o que está em jogo e as trágicas consequências são pura realidade.

Em outubro de 2021, num set no estado do Novo México onde eram rodadas cenas de "Rust", um western de baixo orçamento, um revólver Colt .45 que Baldwin empunhava disparou uma bala real que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins e também feriu o realizador Joel Souza.

Com a fama de Baldwin e a raridade de mortes em sets numa indústria com tantos níveis de controlo como a produção cinematográfica nos EUA, a história tornou-se imediatamente um tema global.

Também polarizou opiniões, com algumas pessoas atribuindo o papel de vítima a Baldwin, que desconhecia que a arma continha uma bala real em vez de uma cenográfica, e outras rotulando a morte como uma consequência do alegado comportamento irresponsável do ator.

Quase três anos depois, após várias tentativas fracassadas da impressionante equipa jurídica de Baldwin de terminar o caso, esses argumentos serão avaliados por um júri num tribunal de Santa Fé, durante o julgamento que começa na terça-feira, 9 de julho.

Se considerado culpado, ele poderá ser condenado a até 18 meses de prisão, pena que está a ser atualmente cumprida pela armeira do filme, Hannah Gutierrez, considerada culpada e sentenciada pelo mesmo tribunal no início deste ano.

Regras básicas de segurança

A morte de Halyna Hutchins ocorreu numa tarde ensolarada durante um ensaio de "Rust", numa pequena capela que faz parte do rancho Bonanza Creek, a cerca de 30 quilómetros de Santa Fé.

Baldwin ensaiava uma cena da sua personagem, um fora da lei que, encurralado numa igreja por dois agentes, saca o seu Colt.

O ator afirma que não puxou o gatilho e lhe disseram que o revólver estava "frio", termo do cinema que significa sem munição e seguro para uso.

Balas reais são proibidas em sets de rodagem e Baldwin argumenta que não é responsabilidade dele, como ator, verificar se o protocolo foi seguido.

A diretora de fotografia Halyna Hutchins com o eletricista Serge Svetnoy créditos: Redes sociais

O julgamento de Gutierrez, a jovem armeira de "Rust", revelou vários argumentos que a procuradoria utilizará contra Baldwin, que também era um dos produtores do filme.

Na época, os advogados de Gutierrez afirmaram que Baldwin "violou algumas das regras mais básicas de manipulação de armas", como nunca apontar uma arma para uma pessoa, a menos que fosse acioná-la.

"A conduta de Alec Baldwin e a sua falta de segurança ao manusear armas dentro da igreja naquele dia é algo pelo qual ele terá que responder", disse a procuradora especial Kari Morrissey, num raro momento de concordância entre ambas as partes durante aquele julgamento.

"Não hoje, nem diante de vocês. Haverá outro júri, outro dia", acrescentou Morrissey.

Conduta no set

Hannah Gutierrez-Reed a 15 de abril de 2024

O dia chegou, com a seleção do júri na terça-feira e a apresentação dos argumentos iniciais prevista para o dia seguinte.

O facto de o caso ir a julgamento já é uma espécie de vitória para os procuradores, que enfrentaram várias tentativas da equipa jurídica de Baldwin para que fosse arquivado.

A defesa do ator americano, de 66 anos, argumentou que o FBI danificou a arma enquanto realizava testes de laboratório, o que impediria um julgamento justo.

A afirmação é significativa porque o FBI concluiu que a arma não poderia ter sido disparada sem que o gatilho fosse pressionado, uma posição que a defesa diz ter perdido a oportunidade de contestar devido ao que aconteceu com o Colt.

Mas os argumentos não convenceram a juíza Mary Marlowe Sommer, que decidiu prosseguir com o julgamento.

A equipa de Baldwin também sugeriu que o seu estatuto de estrela e a sua reputação como liberal incentivaram os procuradores a persegui-lo de forma incansável.

Os documentos judiciais alegam que o comportamento imprevisível de Baldwin contribuiu para a tragédia e que ele mudou várias vezes a sua versão dos factos.

"O senhor Baldwin frequentemente gritava e reclamava sem motivo aparente", escreveu Morrissey, observando que tanto ele quanto a sua equipa eram alvo deste comportamento.

"Ver o comportamento do senhor Baldwin no set de 'Rust' é ver um homem que não controla as suas próprias emoções e não se preocupa com o impacto do seu comportamento sobre os outros à sua volta", acrescentou.

O julgamento está previsto para durar cerca de 10 dias.