Com argumento, encenação e direção de Tiago da Hora e Vanessa Pires, juntando as vozes de Eduarda Melo e Job Tomé, acompanhadas pelo pianista Ángel Gonzalez, as 20 mil cartas trocadas entre Schumann e Wieck vão ser o destaque do restaurante da Casa da Música para o serão do fim de semana.
Segundo Vanessa Pires, responsável pela parte musical do espetáculo, o nome "jantar encenado" pode induzir o público em erro porque pode ser interpretado como uma recriação histórica com música, quando o objetivo passa por ser um "concerto representante", de maneira a que "as pessoas possam jantar e assistir a um concerto".
"O concerto tem duas partes: antes da primeira parte o público faz a primeira parte do jantar, com aperitivos. Enquanto está a decorrer o concerto, o serviço de restaurante para completamente, as luzes apagam e é como se as pessoas ficassem numa sala de concertos”, explicou à Lusa Vanessa Pires.
Depois, “a primeira parte do concerto acaba e o serviço do restaurante é retomado até terminar o jantar. A seguir continua a segunda parte do concerto. No fundo não é um jantar com música, é mais um concerto realizado num restaurante onde as pessoas podem jantar", explica a responsável, afirmando ainda que esta é uma "forma interessante e envolvente do público ter um contacto mais próximo com os artistas".
Relativamente à história que pretendem contar, Vanessa Pires enaltece a admiração existente pela obra de Robert e Clara Schumann e esclarece que este é um "apanhado das melhores canções".
Através de música, de leitura de cartas que ambos trocaram e de uma narração de textos originais, querem "ajudar o espectador a conhecer um pouco sobre a história de vida de ambos".
A história de amor começa em 1830, quando Robert Schumann, com 20 anos, se muda para a casa do professor de piano, Friedrich Wieck, que tinha uma filha, Clara, com apenas 11 anos.
Alguns anos volvidos e depois de uma lesão na mão que o impossibilitou de continuar a tocar piano, Robert dedicou-se à composição e não conseguiu esconder os sentimentos por Clara, começando assim uma relação que o pai de Clara tentou terminar de qualquer forma.
Ainda assim, Robert pediu permissão ao professor para casar com a sua filha, que não foi concedida, o que resultou numa longa batalha jurídica, até que finalmente se casam, em 1840, na véspera do 21.º aniversário de Clara, tinha Robert já 30 anos.
No primeiro ano de casamento, Schumann escreveu mais de 130 peças para voz e piano, nas quais expressava o seu amor por Clara, sendo que cabia à mulher interpretar essas peças em concertos, enquanto tomava conta das oito crianças do casal.
Ao longo dos anos, o casal foi comunicando através de um diário partilhado, no qual expressavam as suas preocupações, pensamentos e desejos, que foi servindo também como fonte de inspiração para futuras composições e que vai servir de base para o jantar encenado.
Em 1856, Robert Schumann morre num asilo depois de anos de deterioração mental, enquanto Clara continuou a atuar, promovendo a música de ambos até falecer, aos 76 anos.
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