Virgílio Castelo e Ana Guiomar dão corpo a Alex Priest e Georgie Burns, respetivamente, um homem de 75 anos e uma mulher de 38, que se encontram casualmente numa estação de comboios na capital britânica e a quem ela pede desculpa por o ter confundido com outra pessoa.
Alex, um talhante tímido, e Georgie, funcionária numa escola de primeiro ciclo com um discurso intempestivo, começam uma discussão, dando o mote para uma aproximação que vai acontecendo ao longo da peça.
Pequenas cenas filmadas em Londres nos locais referidos pelo autor do texto vão aparecendo como cenário, incluindo o talho de Alex, de que este acaba por abdicar para se dedicar a Georgie.
Alex apaixona-se por Georgie e ela pede-lhe para que a acompanhe na busca por um filho desaparecido nos Estados Unidos da América, algo para o qual também vai precisar de dinheiro do talhante.
O “princípio da incerteza” do título da peça, definido pelo físico Werner Heisenberg, estabelece que “não se consegue determinar ao mesmo tempo a posição e o movimento de uma partícula com total precisão”.
Num cenário despojado, onde apenas uns retângulos são dispostos em cima uns dos outros de modo a formarem ora um banco ora uma mesa de restaurante ou uma cama, Alex vai atrás da mulher que, de mentira em mentira, acaba por conquistar o coração de um homem a quem não deixa de chamar velho.
Para Virgílio Castelo, a primeira pergunta que se impões nesta peça é “será que uma relação deste tipo pode existir na verdade ou não?”.
“Eu continuo a não ter resposta. Eu, Virgílio, continuo com dúvidas sobre este tipo de relação. Que é possível, é. Se é verdadeira ou não, continuo a não ter uma resposta”, afirmou aos jornalistas no final de um ensaio.
Já Ana Guiomar, que tem o papel com mais falas e, para o encenador João Lourenço, “o mais difícil”, a relação entre Alex e Georgie “é super verdadeira”.
A atriz até afirmou sentir-se “um bocadinho triste” se não acreditarem que a relação seja verdadeira.
Algo com que Virgílio Castelo, de 71 anos, se mostra renitente: “Ele tem 75, eu tenho 71. Não sei se alguém nestas idades, ou mesmo com 30 ou 40 acredita piamente”.
Sobre a escolha da peça, João Lourenço afirmou “gostar muito” dela: “Acho que a peça, aparentemente, é uma coisa muito simples, mas não é nada. É uma peça muito difícil; é uma peça muito difícil para o trabalho de ator e alguém que perceba de teatro sabe que isto é muito difícil de fazer”, porque “tem muitas camadas”.
“Heisenberg – O Princípio da Incerteza” estreou-se em Nova Iorque, em 2015, com Mary-Louise Parker e Denis Arndt nos papéis principais, e levou a que o ator fosse nomeado para um prémio Tony.
Sobre essa encenação, a cargo de Mark Brokaw, o New York Times escreveu: “O leque de possibilidades entre os espaços em ‘Heisenberg’ ressoa na mente do espectador muito depois de a peça ter terminado”.
Com texto de Simon Stephens, versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos, que assinam, respetivamente, a encenação e cenário e a dramaturgia, a peça tem vídeo de Nuno Neves, figurinos de Marisa Fernandes, e luz de Anabela Gaspar.
A peça vai estar em cena até 28 de julho, com récitas à quarta e quinta, pelas 19h00, à sexta e ao sábado, às 21h30, e, ao domingo, às 16h00.
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