“Llum”, uma criação de Caroline Cornélis, é um espetáculo especial no teatro de marionetas, pois toma a luz como marioneta ela mesma, ao contrário do que é habitual, disse à agência Lusa Luís Vieira, cofundador, com Rute Ribeiro, da Tarumba que este ano comemora 30 anos.

Em "Llum", "a luz esculpe, a luz revela, a luz esconde, a luz explode, a luz toca-nos, a luz conta histórias", lê-se na apresentação do espetáculo da companhia belga Nyash, que "convida a entrar num mundo imaginário, numa viagem poética", entre uma bailarina e um manipulador de luzes, "numa dança radiante, um teatro de sombras", com "uma nova luz".

Numa edição em que, segundo Luís Vieira, as marionetas “vão criar novas possibilidades e novas leituras do mundo”, o FIMFA reúne 21 companhias de teatro de marionetas, oriundas de dez países - Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Israel, Líbano, Canadá e Portugal -, num total de mais de 150 apresentações.

Sem destacar um dia da programação em particular, Luís Vieira cita, no entanto, o espetáculo “Dimanche”, uma criação de duas outras companhias belgas, Focus e Chaliwaté, uma visão apocalíptica, mas cheia de humor, com objetos e marionetas hiperrealistas, que toma por base as alterações climáticas e o sobreaquecimento do planeta, a apresentar nos dias 26, 27 e 28 de maio, no Teatro S. Luiz, em Lisboa.

Outra das propostas externas, com novas leituras, prende-se com “Du bout des doigts”, pela companhia Made by Hands, de Gabriella Iacono e Grégory Grosjean, que também vai estar no S. Luiz, mas a 02 de junho: um espectáculo em que os dedos ganham vida e através de coreografias que marcaram a história da dança, como as de Pina Bausch e de Anne Teresa de Keersmaeker, a partir de modelos com cenografia em miniatura, filmados ao vivo e projectados num grande ecrã. "Um trabalho de grande originalidade", disse Luís Vieira à Lusa.

No ano em que a Tarumba comemora 30 anos e “sem que nunca” tivessem pensado chegar a esta idade, Luís Vieira considera que têm desenvolvido “um trabalho muito dignificante”.

“Por um lado, construímos um festival que tem um público e isso deixa-nos muito orgulhosos. Quando começámos as pessoas tinham, de facto, uma relação com as marionetas mais virada para a infância e para a educação”, e agora "já se concebem e se programam espetáculos para adultos [...], bastante transversais em termos das várias idades”.

Luís Vieira sublinhou ainda que o trabalho desenvolvido pela associação ao longo de três décadas “tem valido a pena”, pois atualmente “o público já tem uma ideia verdadeiramente diferente e bastante crítica sobre os espetáculos que vê”, ao contrário do que antes acontecia.

E isso “é também uma responsabilidade acrescida para nós enquanto organizadores do festival, porque assim sabemos que temos […] de elevar um bocado a fasquia [...] o que nos deixa bastante contentes”.

“Foram 30 anos bastante gratificantes em termos de criações da nossa companhia, quer no trabalho que temos feito em termos de formação, de divulgação e promoção da nossa marioneta, quer em termos mais gerais”.

Há, todavia, uma lacuna que a Tarumba ainda não conseguiu preencher, o que deixa “um bocadinho de amargo de boca”, garante Luís Vieira: os poderes públicos continuarem a olhar para a marioneta com uma ligeira desconfiança.

“Ou seja, em 30 anos, por mais projetos que apresentássemos, por mais ideias que tivéssemos, ainda não conseguimos sensibilizar os poderes públicos para que é necessário, e importante e estratégico, no nosso caso - ter um espaço dedicado à criação e à promoção da marioneta exclusivamente".

Luís Vieira refere-se à necessidade de uma sala em Lisboa unicamente dedicada a programar teatro de marionetas, apoiar os criadores e fomentar projetos de teatro. E conclui: “Isso de facto ainda é uma grande falha, um grande lapso que não conseguimos colmatar nestes 30 anos de trabalho”.

Um espetáculo da Mala Voadora, a última criação da companhia Trupe Fandanga, do Porto, e uma reabilitação das máquinas de palco do Teatro de Ferro são outros dos destaques de Luís Viera da edição 2023 do certame, que disponibiliza ainda um programa paralelo de 'workshops' e alguns filmes.

Teatro S. Luiz, Lu.Ca, Teatro do Bairro, Teatro Taborda, Centro Cultural da Malaposta, Museu de Lisboa – Palácio Pimenta, Museu Nacional do Teatro e da Dança, Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, Cinemateca Júnior – Salão Foz e Novo Ciclo ACERT, em Tondela, são os espaços onde decorrerá o Festival.

A programação integral pode ser consultada em https://tarumba.pt/2023/pt/fimfa.

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