No primeiro dia, ainda a Feira do Livro não tinha oficialmente aberto e alguns pavilhões ultimavam a arrumação de livros nos escaparates e já algum público acorria aos expositores em busca de novidades e descontos.
Naquela que é a sua 93.ª edição, o maior evento literário da cidade de Lisboa apresenta-se com a “maior oferta editorial” de sempre, com 139 participantes, mais de 980 chancelas editoriais, os mesmos 340 pavilhões da edição de 2022, e um plano de lançamentos e eventos que já ultrapassa os 2.000, disse à Lusa Pedro Sobral, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), mostrando-se esperançoso de que a feira “continue a crescer” e que ultrapasse os 776 mil visitantes do ano passado.
Para tal, acredita contribuir o “novo entusiasmo pela leitura” que se verifica, “nomeadamente em jovens leitores”.
“Esperamos que, apesar do tempo e das putativas celebrações futebolísticas, venham aproveitar o que estes 190 editores têm ao seu dispor”.
O responsável acredita que uma visita à feira, mesmo que seja só em passeio ou para comer e beber um copo, é uma porta aberta para “tropeçar nos livros” e entrar em contacto com as “centenas de escritores disponíveis para falar e para autografar”.
“Sabemos que se as pessoas entram em contacto com o livro e com a leitura, ganhamos novos leitores e ao ganhar novos leitores ganhamos também um Portugal muito mais livre, muito mais democrático e muito mais moderado”, acrescentou, esperando que, “independentemente das condições meteorológicas”, “este ano seja melhor do que o ano passado”.
A mesma expectativa tem o responsável de comunicação do Grupo Almedina, Bruno Mano, que se afirma curioso para perceber como vai ser o regresso à data original, “porque os últimos anos foram muitíssimo bons em termos de vendas e afluência de público”.
Este ano a Feira do Livro de Lisboa voltou a abrir em maio, e decorre até 11 de junho, depois de nos últimos dois anos ter adotado um calendário alternativo – entre agosto e setembro -, decorrente da pandemia.
Assinalando que nesta data o tempo é sempre mais imprevisível e que a “chuva é seguramente o pior inimigo das pessoas que vêm à feira”, manifestou-se animado, embalado pelas solicitações de pessoas que “mesmo durante a montagem” já queriam comprar livros, o que não é possível porque “o sistema está programado para funcionar só a partir da abertura”.
De qualquer forma, o responsável de comunicação da Almedina disse que todos os anos o grupo tem crescido de forma sustentada, não só na área de Direito, que é a sua “marca de água”, mas em todas as outras chancelas, nomeadamente a de ficção, Minotauro, e a do jovem adulto, “que é um público que está em franco crescimento, muito graças às redes sociais, aos ‘Instagrams’ e aos ‘TikToks’”.
“Temos notado que há um crescimento dos hábitos de leitura entre os mais novos, que para nós é surpreendente e temos tentado acompanhar a oferta”.
A mesma perceção tem a diretora de comunicação do Grupo Bertrand Círculo, Sofia Lima, que afirmou haver muitas pessoas entusiasmadas com a visita à feira, designadamente as “camadas mais jovens que aderiram muito no ano passado”.
“Este ano prevemos que elas venham, que se encontrem aqui, que estejam com os livros, que passem o dia todo. Há muitos anos que vamos trabalhando com os criadores de conteúdo literário, mas notamos que no último ano houve um grande crescimento daquilo que é a própria dinâmica e a forma como eles trabalham”, frisou.
Sofia Lima contou que antes da abertura oficial da feira, marcada para as 12h30, já havia muito movimento, sobretudo de portugueses, mas também “bastantes estrangeiros”.
Esperançosa numa boa faturação, mas num registo um pouco mais pessimista, Clara Capitão, editora do grupo Penguin Random House Portugal, lembrou as “várias vicissitudes” previstas, como a “ameaça de mau tempo” prevista e a necessidade “de fechar a feira mais cedo no sábado, que é um dia sempre muito forte de público e de eventos, por causa das celebrações da provável vitória do Benfica”, e que obrigou ao reagendamento de “dezenas de eventos para outros dias, o que não é fácil, porque os dias são limitados e o espaço é limitado”.
Clara Capitão teve também a perceção de haver menos gente na abertura da feira do que no ano passado.
“Temos que pensar que é uma quinta-feira e as pessoas trabalham, e no ano passado, sendo no final de agosto, havia muitas pessoas que estavam ainda nos últimos dias de férias”, acrescentou.
Quanto ao fenómeno do que chama “‘influencers’ de livros”, reconhece o “inegável papel que tem tido na promoção da leitura entre leitores mais jovens”.
“No ano passado, a feira do livro teve uma grande percentagem de pessoas que nunca tinham vindo à feira do livro, eram leitores jovens, precisamente por causa do papel que o ‘Booktok’ tem tido, entre outras redes - o Instagram também é muito influente -, e de facto a grande fatia de novo público no ano passado foi de jovens leitores. E, sem preconceito, há que reconhecer o papel fundamental que eles têm nessa promoção”.
Em estreia na Feira do Livro de Lisboa encontra-se este ano a editora Zigurate, lançada há menos de um ano pelo jornalista Carlos Vaz Marques, que estava visivelmente entusiasmado, mas também cauteloso.
“O meu conhecimento é apenas de quem visitava e frequentava a feira do livro como utente e agora estou deste lado, estou noutra posição, portanto estou mesmo à descoberta, é uma aventura”, confessou.
Admitindo que o negócio da editora tem estado a correr muito bem e a encontrar o seu nicho de mercado, Carlos Vaz Marques lembra que há muito que trabalha com livros, “mas numa outra vertente”.
“Agora estou a aprender aqui as particularidades, os alçapões de um negócio que é muito complicado, em que as margens são muito curtas, mas eu acho que o importante é que os livros cheguem às pessoas”.
Entre os primeiros visitantes da feira, encontrava-se a cantora Carolina Deslandes, que se afirma desde sempre uma grande leitora, que todos os anos marca presença da abertura do certame.
Passeando entre os pavilhões e espreitando os livros, Carolina Deslandes esperava pelo pai, com quem mantém há muitos anos a tradição de ir à feira no primeiro dia, para almoçar e comprar livros.
“Eu gosto de vir logo mal a feira abre, porque normalmente é menos confuso, está mais fresco, se bem que não é bem o caso hoje. Já é uma tradição muito antiga. Eu costumo dizer que é o melhor dia do ano, para mim é melhor que o Natal, é melhor que o meu aniversário”.
A cantora destacou a responsabilidade que todos têm por manter esta tradição viva, até pelos seus filhos, para “saberem o que é o livro e para terem o hábito da leitura”.
“Acho que isto é uma grande celebração, que não tem nada a ver com tecnologia, que não tem nada a ver com nada que dependa de máquinas, isto depende só da tua vontade de pegares num objeto e fazeres do objeto teu, e acho que é tão raro, que é ‘pelo amor de deus, vamos salvar a feira do livro durante muitos anos’, porque acho que é mesmo preciso”, disse, assinalando que ler é das coisas que mais gosta de fazer na vida e que a maior coleção que tem é de livros.
Como leitora, vê de forma muito positiva o novo movimento de jovens leitores impulsionados por redes sociais: “pegar num livro para ler já é um bom princípio e acho que vai haver sempre uma moda” e se a moda, em vez de ser ter determinados sapatos ou roupa, “for ler livros, acho que está ótimo”.
Toda a programação e informação sobre os participantes está em feiradolivrodelisboa.pt.
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