Nos últimos meses, são muitos que vaticinam a morte do rock. Que a alma do rock está representada noutros géneros. Tudo sustentado no argumento que o “consumo” de hip hop ultrapassou o do rock. Mas o rock tem a arma e as balas para disparar para todo o lado e contagiar qualquer um.

Se pusermos de parte estas justificações, sabemos que o rock vive dos riffs poderosos arrancados nas guitarras, do estrondoso ritmo ditado pela bateria, do poder de abanar paredes de um baixo ou então da voz que conta histórias de vida nas quais muitos se podem rever.

Tentar definir o rock em poucas palavras é uma tarefa ingrata, mas ver um concerto dos Dapunksportif é suficiente para ver que o rock está de boa saúde e recomenda-se.

No passado sábado, no Sabotage Club, em Lisboa, assistiu-se ao regresso do grupo de Peniche. A banda de João Guincho e Paulo Franco voltou aos palcos depois de seis anos de hiato criativo - durante o qual não deixou de tocar, mas sim de apresentar canções novas. Agora, “Soundz of Squeeze ’o’ Phrenia” veio dar uma nova vida ao grupo nascido há já 14 anos, mas que tem mantido o ADN de sempre: atitude, garra e muito, mas muito rock.

Quem também se juntou à festa foi Fred Ferreira, que mostrou mais uma vez que o rock lhe corre nos genes e também deu novas provas da sua versatilidade, já que é mais um registo musical no qual o vemos atuar. Se contarmos com Banda do Mar, Orelha Negra, 5-30, fora os concertos onde ele dá apoio, como aconteceu com Slow J no Super Bock Super Rock, perdemos a conta às vezes que já vimos o baterista. E sempre com a bitola lá em cima, com um ritmo desenfreado e infernal, como aconteceu.

A banda de Peniche faz jus à sua terra e surfa pelo rock enquanto contagia a multidão que encheu o Sabotage. Não há espaço para o mosh, até porque como se diz a meio do concerto, “o público está muito bem educado, nem insultos ouvimos”, como confidencia o vocalista. À frente do palco temos uma multidão que se recorda de “Fast Changing World”, lançado há seis anos. E se desde 2012 já aconteceu muita coisa, há um momento ainda fresco na memória dos amantes do rock e da música que é recordado: a perda de Zé Pedro.

Aqui, recordamos “Friends (come and go)”, do ainda mais longíquo álbum “Electro Tube Riot”, de 2009. Um tributo para alguém que deixou um legado muito maior do que o trabalho com os Xutos, uma pessoa que é a verdadeira definição do rock.

Nesta catedral do rock, plantado no Cais do Sodré, damos conta uma transformação da banda, ainda assim. No novo álbum, há uma faceta mais aguerrida, mais desenfreada. Daí que o tema da esquizofrenia esteja presente no título deste último trabalho.

Embora tenha sido curto na duração, com apenas uma hora e uns pauzinhos, o concerto foi intenso, sempre sem arrefecer o ritmo. Apenas para tomar umas cervejas para um motor de quatro cilindros (já que também João Leitão estava no baixo a acompanhar a banda) que não podia morrer. Citando outra grande instituição do rock, os Mão Morta, “sempre a abrir a noite toda, sempre a rock & rollar”.

Neste dia de inverno frio, mas de ambiente quentinho do Sabotage, o que ficou na retina, ou melhor, no ouvido, foram algumas das malhas novas da banda, para além da viagem ao tempo em que ouvimos temas antigos. Deste novo disco, lançado na passada semana, destaca-se “Problems”, o incessante “Rollercoaster” ou o single “Ghost Town”.

No final do concerto, o que ficou assente é que qualquer discussão sobre se o rock está vivo ou não é completamente escusada. A prova disso está nos Dapunksportif e neste regresso em força. Como eles disseram, “não deixámos de tocar, só andámos pelos campos pelados.” Agora a digressão segue para a terra natal, Peniche, e a partir daí vão sempre a abrir pelo país fora. A poder, é vê-los e revê-los.

Carlos Sousa Vieira (texto) e Pedro B. Maia (fotos)

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