Assente em três instalações interativas e imersivas, “Furar a Neve”, “Haiku” e “Love song: o que está morto está morto”, a mostra fica patente até 27 de novembro, no espaço daquela instituição no Porto.

Desde 2019 que Joana Magalhães, com trabalho sobretudo no teatro mas a “virar mais para as artes visuais e plásticas”, tem desenvolvido pesquisa sobre o fim, e “Miragem - discursos sobre o fim” “propõe quase um diálogo com o fim, na tentativa de o compreender, adiar”, explica à Lusa.

“No sentido em que precisa de haver um reconhecimento e convivência com o fim para conseguirmos projetar um futuro. No livro ‘Há Mundo por Vir’, de Eduardo Viveiros de Castro e Deborah Danowski, fala-se do momento muito particular em que vivemos, em que a extinção individual se confunde com a extinção coletiva”, reflete.

A partir daí, e ligando esta questão às alterações climáticas, a um mundo pós-pandemia COVID-19 e com “a possibilidade de III Guerra Mundial”, as catástrofes tornam-se “hiperobjetivas, coisas muito próximas, muito presentes, que se confundem com a própria morte enquanto indivíduos”.

A partir do diálogo com o fim, para o reconhecer e viver com ele, chegou a três “formas distintas de lidar com o fim”, “a extinção da ficção, a extinção da preguiça, e a extinção do processo do luto”, não escolhidas ao acaso mas apresentadas “como formas de resistência”.

As três instalações assentam, cada uma, em um animal, com um cenário de “componente bastante onírica, para usar elementos tirados do inconsciente coletivo”, e numa forma de encarar ou divergir do fim, ocupando vários espaços da Culturgest, incluindo o cofre.

Na primeira, a ficção, trabalha-se a ideia de contar histórias como forma de adiar o fim, como Scheherazade nas "Mil e uma Noites", num trabalho intitulado “Furar a Neve”, com um vídeo de 30 minutos em que “um panda vai ao psicanalista porque está com medo da sua própria extinção”, seguindo-se três variações de estufa, “um ‘bunker’, uma estufa no sentido lato, e uma tenda”.

Em “Haiku”, há “um elogio à preguiça, enquanto animal e enquanto pecado capital”, com um “monumento fofo e com o qual as pessoas podem interagir”, podendo ficar o tempo que quiserem com uma versão gigante deste ser vivo, numa lógica de “desaceleração”, de resistir ao tempo imposto.

Na terceira, “Love song: o que está morto está morto”, no cofre da Culturgest, o corvo, “dos poucos animais com rituais associados ao luto”, coloca a morte como “coisa preciosa”.

“Fomo-nos distanciando do processo de luto, tornando a morte muito distante. Arrumou-se a morte nos hospitais, é uma coisa que nos é distante. Há quase um fugir dela. A esperança média de vida aumentou, pensamos em viver mais, também numa perspetiva ‘aceleracionista’. (...) E rejeitamos o processo de luto, o admitir que o fim existe. É uma negação, quase”, afirma.

Além da exposição, será apresentada, no dia 22 de outubro, a performance duracional “Haiku Extended”, de quatro horas, em que Joana Magalhães executa “uma prova dos Jogos Olímpicos, na modalidade preguiça, durante duas horas”.

A mostra contará ainda com visitas guiadas por especialistas de diferentes áreas, da professora universitária Fátima Vieira, sobre utopias contemporâneas, à psicanálise e a Vítor Moita, além de um convidado por anunciar.

Feitas em cocriação com Susana Paixão (“Furar a Neve”), Marisa Escaleira (“Haiku”) e Stéphane Alberto (“Love song”), as três instalações combinam um percurso, e uma narrativa, em que o público poderá interagir com as criações, mas também seguir um fio condutor que as liga.

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