Cinco artistas portugueses destacaram-se este ano além fronteiras, com os seus trabalhos nas áreas das artes plásticas, do teatro, do cinema, da música e da literatura.

O encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues, a artista plástica Paula Rego, a atriz Daniela Melchior, a escritora Ana Luísa Amaral e a cantora e compositora Pongo somam e seguem no palco artístico internacional, acolhendo prémios, convites e elogios.

Com uma carreira de mais de duas décadas e presença regular em palcos internacionais, Tiago Rodrigues, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II de 2014 a 2021, deu o salto para o Festival d’Avignon, em França, um dos mais importantes a nível mundial, que vai dirigir a partir de 01 de setembro de 2022.

Anunciado em julho para suceder a Olivier Py, à frente do que considera ser o “mais belo festival do mundo”, o dramaturgo português foi então apresentado pela ministra francesa da Cultura, Roselyne Bachelot-Narquin, como uma escolha "óbvia" e "doce", com uma proposta cheia de "poesia".

Tiago Rodrigues

Paula Rego, radicada em Londres desde a década de 1960, entrou este ano na lista das 25 mulheres mais influentes do mundo, do Financial Times, para o que contribuiu a exposição no Tate Britain, com a maior e mais abrangente retrospetiva da sua obra.

De 7 de julho a 24 de outubro, o museu londrino apresentou mais de 100 peças de 60 anos de carreira de Paula Rego, o que, para o filho da artista, representou uma vitória “simbólica” sobre a discriminação que a mãe sofreu enquanto mulher e estrangeira.

“Este museu, [durante] quase toda a vida da minha mãe, era só para [artistas] homens brancos (...). Nunca a deixaram entrar, porque era uma mulher e uma estrangeira e, até anos mais recentes, isso era uma coisa que não era apreciada em Inglaterra”, disse Nick Willing.

O Financial Times escreveu que, após lutar “contra um meio familiar profundamente convencional e religioso em Portugal e, mais tarde, a meio da carreira, no mundo da arte de Londres dominado por homens, Paula Rego afirmou-se como provavelmente a mais significante pintora figurativa dos nossos tempos”.

O jornal destaca o “drama, violência e simbolismo” da artista, pondo particular ênfase na exposição no Tate Britain.

Paula Rego

A literatura portuguesa deu igualmente um salto, através da obra da poetisa Ana Luísa Amaral, que em maio foi galardoada com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, atribuído pelo Património Nacional Espanhol e pela Universidade de Salamanca, que destacou a “mensagem de abertura, respeito, tolerância e reivindicação”.

A escrita de Ana Luísa Amaral, ligada a alertas sociais e ao papel da mulher - a que a autora se refere como um “mundo de sentidos” em que o ser humano “tem direito a ter uma vida decente e uma morte digna” -, foi elogiada pelo “compromisso com os direitos e liberdades e, sobretudo, para que a voz das mulheres seja ouvida”. O reitor da Universidade de Salamanca sublinhou a forma como a autora personifica alguns dos melhores valores ibero-americanos, como “a defesa da liberdade, a dignidade da pessoa e a equidade de género”.

Ana Luísa Amaral

Na área da música, coube à cantora e compositora luso-angolana Pongo levar o nome de Portugal além fronteiras, conquistando a cena musical francesa durante a digressão europeia. A ex-vocalista dos Buraka Som Sistema, Engracia Domingos da Silva, mais conhecida por Pongo, iniciou em setembro deste ano uma digressão que passou por Bélgica, França e Espanha, além de Portugal.

Durante a atuação nos arredores de Paris, em outubro, a cantora levou o público ao êxtase, prometendo novo álbum, em fevereiro de 2022, editado pela sucursal francesa da Universal Music Group.

Pongo

O cinema português cruzou continentes e foi mais longe, transportado pela jovem atriz Daniela Melchior até Hollywood, onde interpretou a personagem Ratcatcher 2, na nova megaprodução da Warner Bros., “O Esquadrão Suicida”, de James Gunn, ao lado de nomes consagrados do cinema norte-americano, como Margot Robbie, Idris Elba, John Cena, Joel Kinnaman e Viola Davis.

A sua prestação convenceu Hollywood, ao ponto de entrar na lista de possíveis nomeadas a Oscar para Melhor Atriz Secundária, o que só se saberá em fevereiro. O papel que lhe abriu as portas aos Estados Unidos foi o de Deolinda em “Parque Mayer”, de António-Pedro Vasconcelos.

Depois de "Esquadrão Suicida", Melchior entrou numa nova produção internacional, "Assassin Club", do francês Camille Delamarrem e deverá vir a ser dirigida por Neil Jordan, em "Marlowe", ao lado de Liam Neeson, François Arnaud, Diane Kruger, Jessica Lange e Colm Meaney.