A obra é publicada no dia 24 deste mês, e no mesmo texto, os dois investigadores afirmam que este livro pretende “desmentir o mito”, segundo o qual “Fernando Pessoa é muitas vezes concebido como um ser fantasmagórico, que se isolava de todos para criar um universo interior em detrimento da vida exterior”.

“As ‘primeiras lições’ deste livro são apenas isso: uma introdução a um universo em expansão, que tem o poder de renovar a nossa perceção”, advertem os dois investigadores, para realçarem que o poeta foi “um criador de paradoxos, sendo difícil de encontrar uma página escrita por Pessoa sem alguma contradição”.

Os autores acrescentam: “A quem quer que encontre este livro e deseje conhecer ou reconhecer Fernando Pessoa, avisamos: ele ainda pode mudar a sua vida!”.

O autor de “Mensagem” (1934) é “múltiplo não só por causa dos seus heterónimos, mas também pelos seus milhares de papéis”, atestando Pitella e Pizarro que há “centenas de documentos do seu espólio [que] continuam inéditos”, referindo que a obra escrita em língua inglesa “permanece praticamente inédita”.

Todavia, Pessoa, que “reinventou a sua própria identidade”, “é o mais famoso escritor português, ao mesmo tempo muito conhecido e muito desconhecido”.

Entre outros assuntos nesta obra, com a chancela da Tinta da China, Fátima é um dos temas que o poeta aborda, num texto em que critica o turismo religioso e compara o fenómeno ao de Lourdes, nos Pirenéus franceses.

Pessoa refere-se a Nossa Senhora “como um dos brinquedos infinitos a que não se parte na corda”.

“Seja como for, o facto é que há em Portugal um lugar que pode concorrer vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas a preços mais em conta; há peregrinações que dispensam o comboio”, afirma Fernando Pessoa, referindo ainda que “o negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto êxtase místico da parte dos hotéis, estalagens e outro comércio desse jeito – o que aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo”.

Das 49 “primeiras lições” inclui-se o que os autores partilham da opinião do investigador José Barrento que o aponta como “o mais importante texto político que o escritor deu à estampa”. Trata-se de um texto publicado meses antes de morrer, no Diário de Lisboa, sobre associações secretas, designadamente em defesa da Maçonaria. A publicação deste texto que teve chamada de primeira página e ocupou duas páginas do vespertino, tendo surgido no contexto da discussão parlamentar, em janeiro de 1935, sobre um projeto de lei sobre as associações secretas, visando a Maçonaria.

O jornal esgotou a tiragem aumentada, mas devido à instauração do regime de censura, Pessoa não pôde publicamente responder às críticas, tendo deixado um texto no qual comparou o seu artigo a uma bomba.

“Pela primeira vez fabriquei uma bomba. Cerquei o seu dinamite de verdade com um involucro de raciocínio; pus-lhe um rastilho de humorismo. Feita, atirei-a aos opositores da maçonaria. E o efeito foi não só retumbante mas milagroso. Perderam a cabeça sem a ter”, escreveu o poeta, sendo uma das “primeiras lições” de “Como Fernando Pessoa pode mudar a sua vida”.