O ataque contra o escritor britânico aconteceu na sexta-feira, no palco do Chautauqua Institution, um centro cultural situado no estado de Nova Iorque, onde Rushdie se preparava para discursar.

O agressor é um homem de 24 anos chamado Hadi Matar, que ainda está sob custódia, indicou a polícia do estado norte-americano de Nova Iorque.

Numa conferência de imprensa pelas 17h00 locais (22h00 em Lisboa) para apresentar detalhes do ataque, a polícia afirmou não ter ainda informações sobre o motivo da agressão.

"Bravo a este homem corajoso e consciente do seu dever que atacou o apóstata e vicioso Salman Rushdie", escreveu o jornal, cujo diretor é nomeado pelo líder supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei.

"Beijemos a mão daquele que rasgou o pescoço do inimigo de Deus com uma faca", acrescenta.

Writer Salman Rushdie attacked on lecture stage in New York

Salman Rushdie foi atacado no pescoço e abdómen quando se encontrava no palco do Chautauqua Institution.

"As notícias não são boas", disse na sexta-feira à noite ao jornal New York Times o agente do escritor, Andrew Wylie.

"O Salman vai provavelmente perder um olho; os nervos do seu braço foram cortados e o foi esfaqueado ao nível do fígado, afirmou Wylie, precisando que o autor, de 75 anos, tinha sido ligado a um ventilador.

As autoridades iranianas ainda não comentaram oficialmente a tentativa de assassinato do intelectual de 75 anos.

Seguindo a linha oficial, todos os meios de comunicação iranianos descreveram Rushdie como um "apóstata", com exceção do Etemad, um jornal reformista.

O diário estatal Irão disse que "o pescoço do diabo" tinha sido "golpeado por uma navalha".

"Não derramarei lágrimas por um escritor que denuncia os muçulmanos e o Islão com infinito ódio e desprezo", escreveu Mohammad Marandi, conselheiro da equipa de negociação nuclear, num tweet.

"Rushdie é um peão do império a posar como romancista pós-colonial", acrescentou.

Salman Rushdie incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação, em setembro de 1988, do livro “Os Versículos Satânicos”, levando o fundador da República Islâmica, ayatollah Rouhollah Khomeini, a emitir uma "fatwa" (decreto religioso) em 1989 apelando para o seu assassinato.

Esta sentença de morte, que perdura há mais de 30 anos, foi ordenada pelo alegado crime de “blasfémia", que custou ao escritor a possibilidade de uma vida normal e o afastou da família.

O Governo do Irão há muito que se distanciou do decreto de Khomeini, mas o sentimento anti-Rushdie permanece.

Em 2012, uma fundação religiosa iraniana aumentou a recompensa pelo assassinato de Rushdie para 3,3 milhões de dólares.

Rushdie desvalorizou a ameaça na altura, dizendo que não havia "nenhuma prova" de que houvesse alguém interessado na recompensa.

Nesse ano, o escritor publicou o livro de memórias "Joseph Anton - Uma Memória", sobre a 'fatwa'.

Autor de cerca de duas dezenas de títulos, Rushdie recebeu o prémio Booker em 1981 por "Os Filhos da Meia-Noite", também distinguido com o Booker of Bookers, em 1993, e, em 2008, o Best of the Booker.

"O Último Suspiro do Mouro" valeu-lhe o prémio Withbread, em 1995, e o Prémio Literatura da União Europeia, em 1996.

Salman Rushdie fixou-se na cidade de Nova Iorque, há cerca de 20 anos, e hoje tinha prevista uma intervenção na Instituição Chautauqua, um centro cultural situado no Oeste do estado de Nova Iorque.

Salman Rushdie é publicado em Portugal pela Dom Quixote.