“Palavril”, que junta Palavra e Abril, é o nome com que António Colaço batizou a chaimite que, em 2019, esteve exposta em frente à Assembleia da República em homenagem ao 25 de Abril de 1974, aos “capitães de Abril” e para lembrar o dia de "libertação da palavra amordaçada”.

Passados seis anos, o artista e ex-assessor de imprensa do PS transformou um antigo carro de combate, que agora está numa rotunda de Mação, Santarém, de onde é natural, armando-o com canudos de papel, pintados, caligrafados e com cravos vermelhos, para denunciar o agravamento da situação internacional, em tempos de guerra, na Ucrânia e no Médio Oriente.

À agência Lusa, Colaço afirmou estar convencido de que “cabe à arte tomar parte no combate aos perigos que democracia enfrenta”.

E explicou que quis transformar a “Palavril” de “instrumento celebrativo” de Abril num “instrumento interventivo e denunciador dos perigos que espreitam a deriva ditatorial de Trump e daqueles que arrasta no seu encalce, Putin e Elon Musk”.

O artista aproveitou os canudos de rolos de papel para marquesa – de uma clínica de fisioterapia que frequenta depois de ter tido um AVC – e, em vez de irem para o lixo, foram pintados e caligrafados.

Esses “mísseis”, acrescentou, serão colocados dentro de uma caixa acrílica, transparente, em forma de “canudos, caligrafados, como que carregando palavras”, ou seja, “mensagens da paz com que se quer fazer guerra à anunciada e assassina guerra”.

A obra, ainda em fase de acabamento, foi inicialmente projetada para as comemorações dos 50 anos de Abril, dentro de pouco mais de um mês, mas o autor antecipou a sua conclusão para ser uma “denúncia do agravamento da situação internacional”.

"Palavril" foi a forma de António Colaço, ele próprio militar de Abril, prestar tributo à “data gloriosa”, dia de "libertação da palavra amordaçada” em 25 de Abril de 1974.

Em 2019, Colaço explicou à Lusa que a ideia era caligrafar a chaimite, um ícone da revolução de Abril que pôs fim a 48 anos de ditadura em Portugal, e devolveu a democracia aos portugueses permitindo-lhes “falar, discutir e discordar”.

A ideia ocorreu-lhe quando o coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, de que António Colaço também é sócio, um dia mencionou que o Estado-Maior do Exército “iria disponibilizar à associação” três chaimites, que estavam “para abate”, contou.

“E eu, de imediato, disse-lhe: 'Quero uma para mim'”.

Naquela chaimite que fez parte do contingente militar português destacado na Guerra da Bósnia (entre 1992 e 1995), o ex-assessor do PS desenhou e pintou cravos dourados, colocou cravos vermelhos no lugar onde estava a metralhadora e pintou, a caneta branca, uma composição gráfica, exercitando o “lado gestual da escrita”.