O maestro e compositor italiano, que foi aluno de Nino Rota, é um dos principais investigadores atuais do repertório barroco.

Esta ópera transitou da temporada anterior do teatro lírico português, por impedimentos relacionados com a COVID-19.

A soprano Ana Quintans interpreta o papel da princesa Ginevra e, em declarações à agência Lusa disse que, “apesar de um pouco frustrante a versão semi-encenada é, simultaneamente, um desafio”. Quintans manifestou-se “muito contente” por regressar ao palco do S. Carlos e por este teatro “fazer um repertório menos habitual, designadamente uma ópera do século XVIII”.

“Melhor esta versão semi-encenada, mas que inclui um cenário, figurinos, adereços..., do que não fazer”, argumentou.

Sendo uma versão semi-encenada (por Mario Pontiggia, antigo diretor de produção da Ópera de Monte Carlo), a orquestra de 27 músicos estará em palco e os cantores apresentam-se num estrado mais alto, explicou a cantora, referindo que se vai cantar nesta apresentação, "numa afinação moderna e não da época".

"Vamos cantar no diapasão 442, isto é, meio tom acima” do que se cantaria quando Handel estreou a ópera em 1735, em Londres, no Covent Garden, inaugurando a sua primeira temporada nesta sala de espetáculos.

A soprano realçou, todavia, o convite feito pelo S. Carlos ao maestro italiano Antonio Florio, que tem trabalhado este tipo de repertório, e que considerou “uma mais-valia nesta apresentação de 'Ariodante'”.

O musicólogo, compositor e maestro Antonio Florio, fundador da Cappella della Pietà de'Turchini, em 1987, também conhecido por Ensemble I Turchini, e da Cappella Neapolitana, mais recentemente, pioneiro no resgate do repertório napolitano mais esquecido, estreia-se no Teatro Nacional de São Carlos, dirigindo esta produção.

Florio, que estudou composição com Nino Rota, estudou igualmente instrumentos antigos e interpretação barroca. Desde a década de 1980, tem-se empenhado na investigação do barroco italiano, em particular da região de Nápoles, e tem apresentado seminários e lecionado 'masterclasses' sobre música barroca, vocal e de câmara.

É professor de música de câmara no Conservatório San Pietro a Majella, em Nápoles, no sul da Itália, onde orienta um curso superior sobre estilo e repertório barroco.

A produção que vai ser apresentada no S. Carlos, nas próximas terça e quinta-feiras, às 21h00, é uma versão de duas horas, reduzida relativamente à ópera original, de três atos.

“Todos os papéis sofreram cortes, sem retirar o dramatismo à ópera”, que relata o enlevo de Ginevra pelo príncipe Ariodante. Um romance que tem a aprovação do pai de Ginevra, rei da Escócia. Alvo de interesse pelo duque de Albany, Polinesso, que cobiça o trono, e apesar de rejeitar os seus avanços, Ginevra acaba por se ver envolvida numa intriga que a faz perder a confiança do pai, e é presa. “Mas tudo acaba bem, a verdade é reposta e Ginevra recupera o seu papel, apesar da morte de Ariodante".

Neste sentido, realçou Ana Quintans, a sua “personagem é muito rica, começando num estado de felicidade, de grande harmonia; está apaixonada e é correspondida, tem a aprovação do pai, mas é depois envolvida em intrigas, perde a confiança do pai, é presa, até ser redimida e acabar tudo em bem”.

“Tenho árias grandes, recitativos, acompanhados e secos, e ariosos”, disse a soprano à Lusa, que elogiou o restante elenco, constituído por Yuriy Minenko, Sreten Manojlovic, Eduarda Melo, Marco Alves dos Santos, João Rodrigues e Cecilia Molinari, que se estreia em Lisboa, na interpretação de uma ópera de Handel.

Molinari desempenha o papel do príncipe Ariodante, e Ana Quitans destacou à Lusa a sua “sensibilidade, a técnica que utiliza, a de Rossini, a colaratura, muito expressiva em palco e vocalmente”.

Apresentar esta versão semi-encenada da ópera “é um desafio”, embora “a música de Handel permita ultrapassar pequenas dificuldades" resultantes de não haver uma encenação total. A obra é muito rica e contém em si mesma muitos pormenores que se tornam mais evidentes quando é totalmente encenada.

"Ariodante" estreia-se no palco lírico lisboeta 286 anos depois da sua estreia em Londres e mais de meio século após a sua recuperação para o repertório operático atual, e da passagem pelos principais palcos europeus, onde se afirmou, sobretudo, com desempenhos de cantoras como Janet Baker, Edith Mathis, Lorraine Hunt Lieberson, Anne Sophie von Otter, Lynne Dawson, Ann Murray e, mais recentemente, Joyce DiDonato.

Ana Quintans disse que “não há a tradição deste tipo de ópera subir à cena no S. Carlos”.

O interesse pela música de setecentos, do século XVIII, começou nos anos de 1960, recordou a soprano, que em agosto participou no concerto inaugural, em Lisboa, da Orquestra Real Câmara, um novo projeto de música antiga idealizado por músicos portugueses.

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