Com a premissa de que o Centro Cultural de Belém /CCB) estava esgotado há vários meses, foi com um misto de expectativa e felicidade que recebemos os Orelha Negra, no Grande Auditório do espaço lisboeta, este sábado.

Orelha Negra 2
Orelha Negra 2

São poucos os casos na música portuguesa, pelo menos nos últimos tempos, em que uma banda consegue esgotar uma sala de espectáculos sem termos possibilidade de conhecer algum dos novos sons - sinal da confiança depositada no quinteto composto por Francisco Rebelo no baixo, João Gomes nas teclas, Fred Ferreira incansavelmente na sua bateria, Sam The Kid na mistura e a tratar sem cerimónia dos samples e Dj Cruzfader a dar tudo na mestria do gira-discos.

Com este concerto é a primeira ideia a reter é a seguinte: o desejo de que abril chegue depressa para que possamos ter o álbum nas mãos, porque isto promete.

Por vezes, há projetos instrumentais (com o registo de em Portugal não haver nada semelhante) que tendem a abusar da improvisação. Neste caso, o registo foi trabalhado afincadamente, sem ilusão e espaço para dúvidas. Estes "monstros" da música portuguesa já sabiam mesmo o que iriam fazer. Até a utilização de samples para interagir com o público não foi posta de parte.

Com um início na voz da conhecida cozinheira que invadia os lares pela televisão Maria de Lourdes Modesto, a desejar as boas vindas, foi com um jogo de luzes e sombras assombroso que os Orelha Negra se catapultaram para uma dimensão maior que os mesmos. Para além de encherem as cadeiras do Grande Auditório, ocuparam o palco por inteiro.

Sendo um projecto multifacetado, é natural que os artistas bebam inspiração de vários géneros, sendo que por vezes estávamos a ouvir algo quase orquestral mas de repente o pé batia no chão por causa de um registo mais funk, isto sem esquecer a dimensão hip-hop que estava quase que subjacente.

Em todo o caso, o que o concerto spoilou acerca do álbum é que tem muita alma e personalidade, o groove prometido está lá e mostra que não é apenas um novo trabalho dos Orelha Negra. É um trabalho de continuidade. Mas continuar neste caminho é bom.

Numa caminhada que soube a pouco pois já desde 2013 que não tínhamos Orelha Negra ao vivo, tivemos a possibilidade de ver com uma destreza Sam The Kid a pegar nos samples de Notorious B.I.G., Kendrick Lamar ou Drake (sendo que surpreendentemente, a banda nos mostrou Hotline Bling a ecoar pelas paredes do Grande Auditório).

Posta a apresentação dos Orelha Negra versão 2016, nada como fazer um Throwback. Para além da supracitada faixa, 961919169 e M.I.R.I.A.M. terminaram uma noite que aqueceu os presentes e terminou com aplausos e ovação de pé. Se há expressão que possa resumir o concerto é a seguinte: já tínhamos saudades.

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Fotografias: Rita Sousa Vieira