Passaporte, iniciativa da responsabilidade de Patrícia Vasconcelos, a mais conhecida diretora de casting em Portugal, vai já na sua quinta edição e o objetivo continua a ser o mesmo: pôr em contacto atores portugueses com diretores internacionais de casting, em Lisboa, para futuras produções de cinema e televisão.
Este ano, o evento foi adiado devido à pandemia da COVID-19 e arranca esta quarta-feira, dia 23 de setembro. Nos encontros com os diretores de casting estarão 12 atores portugueses, selecionados por um processo de candidatura.
Rita Blanco será uma das atrizes que vai participar na quinta edição do projeto, juntamente com Lucas Dutra, Daniela Ruah, Pêpê Rapazote, Alba Baptista, Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Joana Seixas, Rui Melo, Pedro Hossi, Welket Bungué e Jaqueline Corado.
Antes do arranque da quinta edição do Passaporte, Rita Blanco conversou com o SAPO Mag, começando por recordar que já participou em várias produções internacionais, como "Amor" (2012) ou "Der gläserne Blick" (2003), entre outros. "Sempre fiz [filmes fora de Portugal]... quer dizer, até parece que sou uma atriz muito internacional. Mas já fiz alguns filmes fora de Portugal (...) Ainda agora fui convidada para fazer um filme em Bruxelas, uma comédia francesa, e, francamente, há filmes que valem a pena e outros que não valem", conta.
"Há pessoas que apostam muito numa carreira internacional e, nesse caso, antigamente era muito mais fácil as pessoas irem lá fora e tentar. Portugal não estava no mapa. As pessoas perguntavam: 'Portugal? É ali perto de Espanha?'. As pessoas não sabiam muito bem o que era Portugal, a grande maioria. Claro que houve uma altura, há muitos anos - era eu jovem, devia ter 18 anos -, em que muitas produções estrangeiras, sobretudo francesas, vinham cá porque a mão de obra era muito mais barata. As equipas técnicas eram muito boas, tinham muita qualidade, ao contrário do que seria de esperar - nós nunca tivemos uma grande produção cinematográfica, em sentido de quantidade, porque qualidade tivemos", recorda a atriz.
"Não era fácil fazer um filme lá fora", frisa Rita Blanco em conversa com o SAPO Mag. "O problema maior é que se fazem muitos poucos filmes e poucas séries cá dentro... esse é o problema maior. Precisamos absolutamente de fazer filmes e produções lá fora porque aqui não há mercado suficiente para os atores portugueses. Podemos ver por este lado também", acrescenta.
"Somos os degraçadinhos que moram longe e acho que o Passaporte pode elevar para outro patamar o trabalho dos atores portugueses"
Apesar de se "fazerem poucos filmes", há "alguns com qualidade", defende a atriz. "Como são muito poucos, é difícil isso poder ser um cartão de visita para os atores portugueses. Eu tive sorte, nem sou daquelas que tem menos sorte, porque até já fui condecorada por França por causa do meu trabalho lá fora - eu hoje estou um bocado vaidosa, é porque estou muito bem disposta", lembra, em tom de brincadeira. "Quando vamos trabalhar lá fora somos reconhecidos... o problema é sermos reconhecidos cá. Esse é o problema e não somos reconhecidos porque temos muito pouco trabalho. A Cultura em Portugal é subvalorizadíssima. Continuamos a ser os degraçadinhos que moram longe e acho que o Passaporte pode elevar para outro patamar o trabalho para os atores portugueses", defende.
Um dos factores que impede uma maior aposta nacional na indústria cinematográfica é a falta de orçamento. "Andam a prometer, no mínimo, 1% do orçamento de Estado para a Cultura há muitos anos. Isso nunca aconteceu. A falta de respeito pela Cultura é uma coisa inacreditável neste país. Por isso, somos sempre os desgraçadinhos... é um bocado irritante. Mas não somos degraçadinhos, somos pessoas que trabalham com o melhor que podem e sabem e que têm direitos", sublinha Rita Blaco, acrescentando que, nos últimos meses, devido à pandemia, as "pessoas devem ter percebido que a Cultura faz parte e é fundamental como é fundamental comer pão ou beber água".
Para Rita Blaco, mais do que nunca, os atores precisam de trabalhar: "Tivemos de nos adaptar, não há outra maneira, e vamos fazê-lo, claro. Mas ainda bem que se faz na mesma o Passaporte. Nós, mais do que nunca, precisamos de trabalhar. Imaginem, fazer uma série gira com condições para trabalhar... é o sonho de muitos atores".
E porquê participar no Passaporte? "Tenho 57 anos e repente disse: 'e porque não? Vamos lá'. Pode ser que eu encontre uma pessoa que se interesse por mim, por quem eu me interesse e que aconteça uma coisa boa. A vida é feita destes encontros", acredita Rita Blanco.
Nas semanas que antecederam o arranque da edição de 2020 do projeto, a atriz dedicou-se a estudar o texto para as audições. "Vim para o Algarve para estudar o texto. Escolhi trabalhar com uma grande amiga e uma atriz que admiro, que é a Cleia Almeida, e que já faz parte do Passaporte há alguns anos. Decidimos e ensaiamos via Facetime", conta.
"No meu tempo não havia tanto a cultura dos castings"
"Já sou muita antiga e no meu tempo não havia tanto a cultura dos castings, pelo menos cá em Portugal. Eu, ainda por cima, tive muita sorte: trabalhei logo com as pessoas com quem gostaria de trabalhar e não tive de fazer muitos castings. A coisa foi evoluindo pelo interesse que eu tinha numa pessoa e a pessoa em mim... e fomos trabalhando. Não tive de fazer quase castings nenhuns", recorda Rita Blanco.
Ao SAPO Mag, a atriz confessa que está um pouco nervosa com o casting no projeto Passaporte. "Fico nervosa e preocupada no bom sentido, no sentido de dar o meu melhor. Para mim é difícil porque acho que um casting tem pouco tempo, não sabemos para quem estamos a trabalhar, ainda não há o projeto e, portanto, é uma coisa que pode correr bem ou correr mal. Mas isso também tem graça. E eu, nesta altura do campeonato, não fico tão preocupada - vou divertir-me e fazer o melhor que souber. Claro que quero fazer o meu melhor, mas contracenar com a Cleia vai ser um gosto. Para mim, é divertido porque é um desafio", confessa. "Sei lá se sei fazer um casting como deve ser. Se calhar, não sei. Veremos", brinca.
Com a participação no Passaporte, Rita Blanco espera conseguir juntar um novo projeto à sua agenda. Para já, nos próximos tempos, a atriz vai dedicar-se ao cinema, ao teatro e à televisão: "Vou participar numa parte de uma novela da SIC. Depois, como a preparação do filme do Canijo teve de ser interrompida devido à pandemia, volto e vamos começar a filmar, se tudo correr bem, em janeiro. Vamos estar três meses a filmar, mais ou menos. Depois, provavelmente, irei fazer outro trabalho com a SIC e a seguir irei fazer uma peça de teatro, um projeto de teatro que tenho com outro ator e que me apetece imenso fazer. Tenho também um projeto de um filme com um novo realizador, que não conhecia e foi um encontro bestial - é um método de trabalho que vai ser mesmo bom, trabalhamos todos juntos e aprendemos imenso. E, por enquanto, é isto", revela.
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