Com a nova temporada em pleno andamento a Culturgest é um dos mais sólidos e diversificados centros culturais de Lisboa – numa altura em que completa 25 anos de existência. O SAPO Mag conversou com o diretor da instituição, Mark Deputter, sobre essa trajetória e sobre a importância de estimular novos públicos para a celebração da arte alternativa.

Neste momento, decorrem até janeiro exposições de Juan Araújo, Kader Attia e Salomé Lamas e, neste fim de semana (17 e 18 de novembro) o destaque é o debate “Musas – A Música das Artes” – que integra o ciclo “Musas” e reúne Maria Filomena Molder, Rosa Maria Martelo e Tomás Maia a discutir a interação entre a música e as outras formas de arte.

Conforme relata o seu diretor, a instituição foi criada pela fundação da Caixa Geral de Depósitos para apresentar uma programação cultural dentro do seu edifício central e um dos traços que distinguiu o local desde o início foi a decisão de dedicar-se exclusivamente às artes contemporâneas.

“Neste sentido foi um caso especial desde o início, não existia nenhum espaço na cidade com estas características. Claro que havia outros espaços culturais e mesmo o CCB surgiu nesta altura, mas não dedicadas unicamente às artes contemporâneas”, observa.

Diversidade

Estas formas de expressão são marcadas pela diversidade: a Culturgest apresenta música, teatro, dança, performance, exposições e conferências.

“Uma das qualidades desta casa que acho muito atraente é que temos várias artes a conviver numa mesma programação, várias maneiras de abordar, e públicos diversificados. Também aí contamos sempre com a hipótese de seduzi-los para outras artes que não estavam inicialmente interessados”, explica Mark Deputter.

Da mesma forma, outro traço fundamental é o seu caráter internacional – e a programação em curso traz artistas e palestrantes de todos os cantos do mundo – para além de apoiar a produção nacional.

“Durante muitos anos”, conta o diretor da Culturgest, “havia o título de 'casa do mundo' a acompanhar o nome. Hoje em dia, isso já não é preciso pois todos sabem que a programação é internacional”.

O trabalho de programação é complexo, feito por equipas especializadas e com muita antecedência: neste momento, já se prepara o segundo semestre de 2019.

“O que selecionamos tem a ver, para além, obviamente, da qualidade dos artistas, com as condições que temos, os orçamentos, o público-alvo e outras condicionantes. No fim, reunimo-nos e conjugamos isso tudo para uma proposta final”, relata.

Velhos e novos públicos

A Culturgest possui um público fiel, que garante à casa a continuidade de uma programação variada e alternativa, mas não é estanque.

“O trabalho de atração do público nunca acaba, temos que reforçar o convite para que ele saia da sua zona de conforto”, diz.

Programação alternativa, mas sempre à procura de dialogar com o público. É o caso de algumas iniciativas destinadas a jovens e crianças, como o de caráter comunitário Radar, que leva artistas a 20 escolas do distrito de Lisboa e traz, ao mesmo tempo, esse público para espetáculos no centro cultural.

Duas iniciativas especiais marcam este elo comunitário, propondo a participação ativa da audiência. Uma delas é o Coletivo de Curadores, que permitirá aos inscritos conheceram o trabalho de curadoria de uma exposição de arte.

O outro, que decorre em fevereiro, é o “100% Cidade”, do grupo “Rimini Protokoll”, que chega a Lisboa depois de um périplo por 35 cidades ao redor do mundo.

Essencialmente, eles pegam nas estatísticas da cidade para lhes dar um cariz humano: 100 pessoas escolhidas, representantes de diversas categorias sociais (género, idade, nacionalidade, agregado familiar, área de residência), unem-se em palco para falar algo de si próprias.