Do Alentejo, em direção ao boémio Ritz Clube, vieram, ontem à noite,Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo, de guitarras e tambor às costas. Esperava-os uma sala coberta de vermelho, que guardava rostos familiares de copo de vinho na mão e conversas de ocasião,numa noite que cheirava a uma primavera que tema em ser chuvosa. Estava tudo a postos para uma one night stand com os Virgem Suta.

Poucos foram os que se aproximaramda frente do palco, preferindo posicionar-se num semicírculo que timidamente abraçava o cenário, composto por um cadeirão de cartão, uma televisão, sapatos dançantes e, claro, a mesinha com o garrafão de cinco litros. E eis que Jorge sauda os amigos: "Sejam bem-vindos ao lar dos Suta". "Hoje é um dia de festa contínua... Houve alguém que saiu do Governo", atirou ainda, com alívio, entre palmas cheias de fé e um jogo de luzes amarelas, antes de se lançar para Ressaca.

Não sou deste lugar antecedeu o primeiro brinde da noite, com vinho da casa - "À vossa, irmãos!". Seguiram-se os primeiros acordes de Tomo conta desta tua casa, com sabor a vitórias do passado, que logo despoletaram palmas várias. Sem pausas, anunciaram um tema sobre desejos:desejos do público, desejos do país, desejos dos artistas. "Se pudéssemos, exportávamos esses bandidos todos que nos têm atormentado", ataca o capitão Jorge, antes de iniciar Exporto a tristeza, onde o Fado se canta para esquecer o presente. A sala dança, num swing que contamina todos os pares de joelhos.

Há pouca calma na cantoria e a festa é dura. Em tom de brincadeira, vem a história sobre a galderice do Zé, que tem um filho para criar. Anjo em descensão podia fazer parte de um western, de uma cena em que se caminha por um deserto, até ao céu. Para os que lá estão e não estão sozinhos, os mortais fazem um brinde, numa nostalgia alegre e numa “Dança de balcão”.

“Deu-nos um enorme prazer gravaresta cançãocom a Manuela Azevedo – gritos de entusiasmo -e vocês vão fazer de Manuela Azevedo, porque são fofinhos”. Gargalhadasgraves enchem o recinto noturno. Linha cruzadas tem o timbre da incapacidade de falar, das pernas a tremer e da paixão de um simples cumprimentar; mas podia ser a história do encontro ao acaso que casou musicalmente Nuno e Jorge.

Beija-me na Boca aqueceu as vozes e os corações da família Suta, antes de Maria Alice, a senhora que só vive com gatos, caricatura de metade da população idosa em Portugal, aparecer. E, para não dar aso a artroses, surge um momento teatral à Carmen Miranda, que num instante encheu caras com sorrisos.

“Se a minha avó estivesse aqui, dava-me beijinhos” -foi a introdução a um conto sobre um pretendente da querida avó de Benvinda, que não era o melhor partido: “Era um cafajeste, um sumbag, um...relvas!”.

O nacionalismo é uma coisa que nos encanta e, numa homenagem a Carlos Paião, entoou-se Playback até as paredes tremerem.

Nuno Figueiredo deu a ouvir a sua voz falada nos agradecimentos de um encore que não deixou os Virgem Suta saírem de palco. “Apesar do jogo do Benfica, é bom vir a Lisboa e ter pessoas para nos ver”, diz. E, em jeito de serenata,chega a música sobre o amor de “Bárbara e Ken”.

“Se Deus quiser, o dia-a-dia laboral e os ossos do oficio não serão tão infernais como o costume – sonha-se com malgas de caviar comidas à colher" - ea pertinente sucessão musical foi “Luso Gentleman”.

As cantigas de taberna e o corpo já quente ajudaram a dar um coice a uma certa besta emMula da agonia, mas o festejo estava longe de acabar. Pede-se público no palco e canta-se a favorita do alinhamento. Tomo conta desta tua casa pôs o Ritz a bater o pé e a prometer mais celebração, em forma de um copo de vinho.

Sara Fidalgo