Depois de dois discos marcados pelo contexto da pandemia de COVID-19, a banda de Alexandra Saldanha, Nuno Duarte, Filipe Louro, Diogo Costa e José Vale encontrou no trabalho do baterista, Pedro Vasconcelos, “uma qualquer maneira de tocar que espoletou uma qualquer ideia de infantilidade, de as coisas poderem ficar caóticas mas de ser possível segurar-se no meio desse caos”, descreve a vocalista à Lusa.

“O conceito dos nossos discos acontece mais em resposta ao que já estamos a fazer. Estamos quase sempre em processo de composição e vemos surgir uma certa tendência, musical ou letras, e afunilamos isso para um sítio que nos parece fazer sentido”, conta Nuno Duarte.

Essa transformação do baterista em palco, conta Alexandra Saldanha, sempre “a partir o chão”, levou-os a explorar a infantilidade e o caos divertido de que se lembravam da popular série animada “Recreio”.

“[Na série] havia uma zona com uma cerca que separava os miúdos do infantário, que eram completamente danados da cabeça. Os mais velhos tinham medo deles, que estavam só no caos a divertir-se. Foi a partir desse caos divertido, que o Pedro nos trouxe e nos ensinou, que surgiu este disco”, acrescenta.

Daí saiu uma sensação de estar “a flutuar”, com uma leveza que lhes permitiu ascender do chão a que aludem no título do disco, muito focados na exploração ao vivo das novas faixas.

“Este disco explora muito isso. O mundo está um caos, existir é caótico, muito assustador e estranho, [é] estar sempre em confronto com coisas que nos assustam. [Quisemos] trazer essa inocência de criança, de olhar para tudo com entusiasmo. (...) Este disco espelha essas aprendizagens”, completa.

O sarcasmo e o surrealismo continua a marcar uma banda que, a dada altura, utilizava expressões como “neoniilismo espiritual” e “banda filarmónica surrealista” para se descrever e à sonoridade que apresenta.

Se o sarcasmo é “motor”, apontando o dedo tanto ao público como aos próprios, a reflexão sobre a idade adulta, em contraste com “a inocência de uma criança”, continua em cena.

“O disco fala mesmo sobre isso. Se calhar, uma boa solução para tornar o mundo mais fácil de habitar é a inocência de uma criança, com temas que percorrem todas as músicas: a compaixão e a compreensão. O disco é um apelo a essa capacidade de não olhar para o Outro, com maiúscula, mas andarmos mais de mão dada”, descreve Alexandra Saldanha.

Nuno Duarte acrescenta ainda a influência da música ‘gospel’, uma audição frequente no processo de composição que acabou por “verter um pouco para o disco”.

Sucessor de “Bro, You Got Something In Your Eyes” (2021), o novo álbum é lançado pela gig.ROCKS! e pela Discos de Platão, com apresentações no Porto, quinta-feira no Maus Hábitos, Aveiro, sexta-feira no GrETUA, e Lisboa, no sábado no Musicbox, antes de, em junho, a banda integrar a programação do Primavera Sound, no Parque da Cidade do Porto.

“[É uma] extrema alegria podermos tocar lá. Tocar é quase ligarmo-nos às máquinas, à eletricidade, é o que nos dá vontade de continuar”, afirma Nuno Duarte.