A tarde ainda ia a meio e já Martina Topley Bird, de vistoso vestido vermelho e pinturas faciais a condizer, actuava para um Palco Planeta Sudoeste composto. As delicadas canções da britânica, que ora se dedicava ao sintetizador ora recorria a outros pequenos utensílios musicais, foram suficientes para manter o público na zona.
A alguns metros dali, os bracarenses peixe:avião abriam, com sotaque, o Palco TMN. Com um álbum novo prestes a sair, a banda de “A espera é um arame” mostrou-se visivelmente satisfeita pelo convite (o vocalista agradeceu diversas vezes) ao longo da actuação) e aproveitou para revelar algumas músicas novas sempre com bom acolhimento do (ainda pouco) público que se encontrava no local.
Se no ano passado Mariza trouxe fado mas também… Skunk Anansie até ao Sudoeste, este ano Carminho preferiu evitar as interferências. E foi o suficiente para encantar o público que rumou até ao palco secundário do Sudoeste e que, a espaços, conseguiu acompanhar timidamente a jovem fadista. Desde “Velha Tendinha” a “Alfama” passando, obviamente, pelas canções do seu disco de estreia, os fados de Carminho integraram-se no contexto festivaleiro com o mérito a ir inteirinho para a própria. O fado tem, definitivamente, um lugar no Sudoeste.
Já se sabia que Mike Patton tinha pinta de crooner. Mas assistir ao vivo a um projecto em que o vocalista dos Faith no More se entrega de corpo inteiro ao cancioneiro da música ligeira italiana dos ano 50 e 60 não deixa de ser surpreendente. Acompanhado, para além dos músicos do projecto, por alguns músicos da Orquestra do Algarve, Patton surgiu de fato branco e arrancou alguns dos mais merecidos aplausos da noite. “Il cielo in una stanza” foi só o início deste concerto onde o músico deu muito de si (a voz, mas também a fisicalidade habitual e acima de tudo a personalidade) a estas canções e foi sempre bem sucedido.
Uns minutos depois, enquanto o Palco TMN se preparava para receber os franceses Air, que vieram, viram mas não venceram este “duelo” com o público do Sudoeste, pouco habituado a delicadezas sintetizadas, acontecia outros dos fenómenos deste dia de Festival. E mesmo dos vários dias desta edição. Havia um motivo para o palco Planeta Sudoeste estar a abarrotar como não se tinha visto ainda este ano e esse motivo tinha um nome: Beirut.
A banda de Zack Condon já esteve para vir a Portugal duas vezes e à terceira foi de vez para histeria de muitas pessoas. “Nantes”, logo na abertura, ainda aumentou mais o clima de euforia que se manteve até ao final. Condon, visivelmente tímido parecia nem saber reagir a uma reacção daquelas e os agradecimentos sucederam-se ao longo do espectáculo. As canções dos Beirut, apesar de tudo, são quase intimistas mas assim ganham a dimensão de pequenos épicos. Um regresso nos próximos tempos deve estar, certamente, no papo.
Num dia em que estiveram, segundo dados da organização, cerca de 41 mil pessoas no festival, muitas delas deviam esperar o concerto dos Massive Attack. A banda inglesa é, desde há muitos anos, um frequentador habitual dos palcos nacionais mas, ainda que não seja verdadeiramente novo, o seu espectáculo hipnotizante continua a cativar. Com Martina Topley Bird, Horace Andy e Deborah Miller a proporcionar ambientes diversos a músicas vindas do catálogo musical da carreira do grupo, Robert Del Naja e Grant Marshall agarraram as milhares de pessoas que se deixaram embrenhar num espectáculo que também tem muito de visual.
Mas, e a contar pela reacção pré e pós- concerto, o nome mais esperado da noite era outro. O DJ francês David Guetta conseguiu o feito de, em poucos segundos, pôr a dançar uma plateia mais do que composta (e o próprio fazia questão de repetir: “40 mil pessoas”). As músicas do seu último álbum, “One Love”, foram as mais celebradas mas pelo meio houve referências sonoras a Prodigy, Imogen Heap e também Black Eyed Peas, nomeadamente o sucesso produzido por Guetta, “I Got a Feeling”. Às 3 da manhã ainda se dançava freneticamente na Herdade da Casa Branca. O Sudoeste terminou verdadeiramente em festa.
Texto: Frederico Batista
Fotos: Frederico Batista e Helena Costa
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