"Tem uma música que toco hoje sobre as mulheres, mas nela falo também dos homens, porque eles são parte fundamental da emancipação. Também menciono a importância de educar jovens, pais, avós e maridos futuros, para que todos contribuam para a mudança social", disse à Lusa, Sona Jobarteh, que se apresenta hoje na 14.ª edição do KJF, evento que começou na quinta-feira na capital cabo-verdiana.

Nascida em Londres, mas integrante de uma das famílias mais tradicionais da Gâmbia, Sona ocupa um lugar único: é uma mulher que toca o "cora", um instrumento tradicionalmente reservado aos homens, os "griots", músicos cuja função é transmitida hereditariamente.

Para a artista, tocar o "cora" é mais do que uma tradição, é uma "experiência de inovação e preservação cultural".

"A tradição de tocar o 'cora' é muito complexa. Eu, como mulher, nunca tive a ambição de ser a primeira a fazer isso. Queria apenas ser uma boa tocadora, sem me ver diferente de qualquer outra pessoa. O importante é perceber que as mulheres estão a assumir papéis que antes não lhes eram atribuídos, e isso é histórico", referiu.

O "cora", para Sona, não é só um símbolo cultural, mas também uma ponte entre o passado e o presente.

"O meu papel é trazer inovação para a tradição, para que ela continue relevante, moderna, sem perder as suas raízes", afirmou.

A artista tem sido uma defensora da força feminina, destacando a importância da educação para o desenvolvimento social.

"As mulheres têm um papel crucial, tal como os jovens. Por isso, defendo a educação como ferramenta para o desenvolvimento, sem abandonar as nossas culturas", acrescentou.

Apesar do preconceito que ainda enfrenta, Sona não mudou a sua visão e celebra o reconhecimento que tem recebido.

"Aprender a tocar o 'cora' na Gâmbia não foi fácil. Por ser mulher, não podia participar em todos os espaços e as pessoas tentavam ver se eu conseguiria superar os homens. Essas pressões quase me fizeram desistir, mas a determinação das mulheres é o que nos faz superar as dificuldades", disse.

Na sua primeira visita a Cabo Verde, Sona expressou a sua "ansiedade": "Cada lugar onde me apresento é uma experiência nova. Não crio expectativas, prefiro aprender, entender e conectar-me com o público. Estou ansiosa para esta nova experiência", afirmou.

Sona Jobarteh, com a sua voz e melodias, conquistou públicos de todo o mundo, abordando temas como identidade cultural, género, amor e respeito.

Além da música, é muito ativa em questões sociais.

Representa a Gâmbia na Organização Mundial do Comércio e fundou a `Escola Amadu Bansang Jobarteh´, onde crianças da Gâmbia têm acesso a uma educação que integra música tradicional e académica.

"O meu tempo é ocupado principalmente pelo trabalho educacional que desenvolvo. Estou a tentar gravar um novo álbum, mas com tantas responsabilidades, tem sido difícil. Espero que possamos lançar o álbum no próximo ano", concluiu.

O Kriol Jazz Festival segue hoje para a segunda noite na cidade da Praia, com concertos que incluem apresentações de Mário Lúcio, o trio do pianista martinicano Mario Canonge, a artista gambiana Sona Jobarteh e a banda francesa Sixun.