Os abraços e os apertos de mão que se trocaram na plateia, na fase inicial da noite, sublinharam bem o sentimento de irmandade vivido na passada sexta-feira, no Musicbox, onde Sir Scratch apresentou o seu mais recente trabalho. “Em Nosso Nome” ergueu-se não só como nome do álbum em questão, mas, também, como o lema da noite, a qual o próprio dedicou a todos os presentes.

As hostes ficaram a cargo de DJ Glue, que aqueceu os presentes com uma seleção que viajou de temas de hip hop antigos, a outros mais recentes, mantendo o Musicbox animado, com vários a ensaiar alguns passos de dança. Chegado o momento pelo qual os presentes ansiavam, Bomberjack – DJ tutor e mentor da editora Footmovin – subiu ao palco afim de substituir Glue nos pratos e dar assim início ao concerto. “A mudança chegou finalmente” -assim como no álbum, foram estas as palavras que introduziram o concerto, com Scratch a irromper em cena ao som de “A Cruz”, numa explosão de flow e atitude.

Foi a seguir a “Pishback” que Bob Da Rage Sense – colega de editora, com o qual Scratch partilha já alguma afinidade – foi convidado a subir ao palco e a servirde voz de apoio ao rapper durante todo o concerto. “Criatividade” foi o primeiro tema que a dupla abraçou, revelando um bom trabalho de casa, eficiente e bem ensaiado.

A atuação de sexta-feira ficou pautada pela energia que Scratch emanou em palco,com temas que requerem algum fôlego extra, como «Por Medo», a não ficarem aquém da interpretação do MC. O mesmo não pode ser dito em relação a alguns dos convidados especiais. Algumas das participações ficaram um pouco insípidas na conjuntura do espetáculo, como, por exemplo, Luanda Cozetti em “Capoeira”, e NBC e Tamin em “Vive!”. Ficou no ar a sensação que as prestações em questão podiam ter sido mais exploradas, tendo as mesmas transparecido, por vezes, alguma descoordenação.

“Fragmentos” talvez seja o tema mais profundo do álbum “Em Nosso Nome”. Por essa razão, Sir Scratch decidiu interpretá-lo num âmbito mais intimista, remetendo-se a uma das laterais do palco, com o intuitode ficar só e manter a relação unipessoal com a canção. No palco, Felipe Gonçalves cantou o refrão de “Fragmentos”, enriquecendo o momento, numa prestação de plena competência.

Apesar do concerto se centralizar no álbum mais recente, Sir Scratch não resistiu e resgatou um par de canções do seu anterior “Cinema – Entre o Coração e o Realismo”. “Silêncio” e “Nada a Perder” foram, então, as peças que marcaram a viagem a 2005, com esta última a ser recebida com enlevo por parte do público.

Uma breve passagem por “O Ser”, com a audiência a acompanhar o ritmo da música com palmas, abriu caminho para “Faz Parte”,que contoucom a participação de Brain, que, infelizmente, sofreu na pele alguns dos problemas técnicos que assolaram a festa: feedbacks e desiquilíbrios entre o instrumental e a voz. Houve espaço ainda para “Se Tás Nisto Por Desporto”, “CSF” e “Deixa-me Em Paz”, canção que se fez acompanhar da projeçãosimultânea do respetivo vídeo.

“Estamos juntos! Em nosso nome!” - foram as últimas palavras que Scratch exclamou ao microfone, antes de abandonar o palco, deixando no ar um sentimento de união e partilha.

Antes do encore, NBC aproveitou para proferir umas palavras relativas aos fundamentos do hip hop. “Hip Hop é isto, chamar as pessoas aos concertos e transmitir a mensagem. As pessoas, por sua vez, deslocam-se aos locais ordeiramente, recebem a mensagem e vão embora. Isto é que é hip hop e mais nada”, proclamou NBC como introdução ao tema que se seguiria. E as suas palavras fizeram todo o sentido quando Scratch rematou, pela segunda vez na noite, com “Tendências”,tema que resultounuma reação fervorosa por parte do publico, que replicou as letras do rapper, balançando as mãos no ar. Finalizado o concerto, é importante realçar a boa estreia ao vivo de “Em Nosso Nome”, que irá somar trunfos com o tempo, e com o amadurecimento da experiência ao vivo.

Cumprida a missão em Lisboa, resta aguardar até dia 25 para a próxima apresentação de “Em Nosso Nome”, desta vez no Hard Club (Porto).

Manuel Rodrigues