Longe vão os dias dos Take That, boy band onde o britânico Robert Peter Maximillion Williams ganhou notoriedade a partir de 1990.
Embora o quinteto tenha sido o grupo que mais vendeu em Inglaterra desde os Beatles, Robbie Williams desde cedo se mostrou como o elemento mais desenquadrado, e o facto de nunca ter estado totalmente confortável explicou a opção por um rumo em nome próprio a partir de 1995.
Uma vida pouco privada
O arranque a solo não foi, contudo, dos mais auspiciosos. Mais do que pela música, tornou-se então alvo de atenção devido aos contactos com o álcool, drogas e recorrentes festas, numa postura que não podia estar mais longe da faceta limpinha e bem-comportada da banda que integrou (passando a ser muitas vezes visto com os Oasis, ídolos com os quais nunca chegou a colaborar).
Os anos seguintes nunca apagaram por completo esse retrato de "enfant terrible", com tanto de hedonista como de vertiginoso - antes pelo contrário, a certa altura Williams chegou a fumar mais de 60 cigarros por dia, o seu aumento de peso não passou ao lado dos tablóides e vários períodos de depressão e consumo de drogas levaram a uma estadia num centro de reabilitação em 2007.
Uma discografia prolífica
Já nos discos o seu rumo tem sido menos turbulento, uma vez que a popularidade do registo de estreia, "Life Thru a Lens" (1997), manteve o álbum no Top40 britânico durante quarenta semanas (onde chegou a atingir a primeira posição).
Em pouco mais de dez anos, Williams editou mais sete álbuns de estúdio, aos quais se juntam compilações e um registo ao vivo, ainda que a música que apresentam não tenha mudado assim tanto.
Riscos, mas não muitos
Alternando entre baladas devedoras da sua experiência nos Take That ou exemplos de pop dinâmica e orelhuda, as suas canções nunca se mostraram tão ousadas como a sua postura.
Ainda assim tentou, mais recentemente, não optar pelo óbvio, esforço que o grande público não acolheu particularmente bem. Um disco mais electrónico como "Rudebox" (2006) foi um triunfo artístico mas uma decepção comercial, onde colaborações ilustres (com Lily Allen, William Orbit, Mark Ronson, Soul Mekanik ou Pet Shop Boys) ou covers inesperadas (de temas de Manu Chao, Human League ou My Robot Friend) resultaram no seu álbum menos vendido.
A resposta de Williams chegou com um disco mais polido e sóbrio, "Reality Killed the Video Star", editado em 2009, que recuperou a pop directa dos primeiros discos (tendo Trevor Horn, dos Buggles, como produtor).
Sobreviver na pop mainstream
Terá sido a sua atitude que mais o ajudou a superar, de longe, as frágeis incursões em nome próprio de ex-colegas como Mark Owen ou Gary Barlow - tornando-se, a par de George Michael, num dos raros sobreviventes de uma boy band com uma carreira longa e bem-sucedida.
Entertainer eficaz, sarcástico e despretensioso q.b., mantém um carisma reforçado por alguns videoclips engenhosos e, mesmo que musicalmente esteja longe de revolucionar, só isso já parece ser suficiente para ganhar um lugar de destaque na pop actual (sobretudo numa altura em que construir uma carreira é quase uma miragem). Pelo menos de acordo com os Brit Awards, que o distinguiram este ano com o prémio Contributo Extraordinário para a Música (e o nomearam para Melhor Artista Masculino Britânico).
"In and Out of Consciousness: The Greatest Hits 1990–2010", que chega esta segunda-feira às lojas, revisita parte significativa do seu percurso e, aos singles já conhecidos, junta dois temas novos: "Shame" e "Heart and I". Ambos foram co-escritos por Gary Barlow e o primeiro tem mesmo direito a colaboração vocal do ex-elemento dos Take That. O ex-colega de Robbie Williams participa também no videoclip, que entre o humor e a controvérsia (é uma sátira ao filme "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee) mostra que a imagem continua a ser uma forte aliada do cantor de "Let Me Entertain You".
Alinhamento de "In and Out of Consciousness: The Greatest Hits 1990–2010":
CD 1:
1. Shame (com Gary Barlow)
2. Heart And I
3. You Know Me
4. Bodies
5. Morning Sun
6. She's Madonna (com os Pet Shop Boys)
7. Lovelight
8. Rudebox
9. Sin Sin Sin
10. Advertising Space
11. Make Me Pure
12. Tripping
13. Misunderstood
14. Radio
15. Sexed Up
16. Something Beautiful
17. Come Undone
18. Feel
19. Mr Bojangles
CD 2:
1. I Will Talk And Hollywood Will Listen
2. Somethin' Stupid (com Nicole Kidman)
3. The Road To Mandalay
4. Eternity
5. Let Love Be Your Energy
6. Supreme
7. Kids (com Kylie Minogue)
8. Rock DJ
9. It's Only Us
10. She's The One
11. Strong
12. No Regrets
13. Millennium
14. Let Me Entertain You
15. Angels
16. South Of The Border
17. Lazy Days
18. Old Before I Die
19. Freedom
20. Everything Changes (Take That)
Robbie Williams e Gary Barlow no videoclip de "Shame":
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