É só no final da segunda música que Rita Redshoes solta um “Olá” seguro. “Estou muito contente de estar aqui. Esta é uma noite contente”. Ao pisar o palco da Aula Magna, onde a própria diz ter assistido aos melhores concertos da sua vida, Rita Redshoes não deixou nada ao acaso. O palco cuidadosamente pensado, onde a cor e luz transportaram o público para diferentes ambientes durante a noite: oraum programa de televisão, ora uma noite enigmática, ora uma tarde no Hawai.
A abrir a noite, brinda-nos com o tema "Jungle 81" do novo álbum "Lights & Darks", mas foi a terceira música,“The Begining Song” (do primeiro álbum), que arrancou os primeiros fortes aplausos. O ambiente intimista da Aula Magna tem destas coisas: tanto pode provocar a apoteose pela proximidade com o artista, como gerar o silêncio num público mais comedido que quer ouvir mais do que “viver”.
Com “Bad Lila”, Rita solta-se. Encarna a personagem da mal comportada Lila (não que ela o seja, confessa a artista), e o palco torna-se quase estrado de teatro. A Rita Redshoes que agora vemos é bem diferente da do início de “Golden Era”, ainda com pezinhos de lã e algo tímida em palco.
"Lights & Darks" foi o álbum que a trouxe à Aula Magna e foi esse que marcou mais a noite. Leque de plumas na mão e surgia não só tema “It's A Honeymoon” como o ambiente de ilha paradisíaca em palco. A voz de Mr. Rogers, num gravador, rematou o tema: “I like you just the way you are”.
A noite animou com os primeiros sons do single “Captain of My Soul”, com um arranjo diferente a anunciar a abertura da pista de dança. O público não se lançou muito para dançar, mas a noite aquecia. Com um monóculo, qual capitã do navio, Rita olhava a assistência. Não viu casa esgotada, mas viu um público rendido.
A aguardada entrada em cena de Paulo Furtado (Lengendary Tigerman) e Ricardo Fiel (guitarrista de David Fonseca) chega com o tema “One Cold Day”. Os músicos entram a meio para emprestar a sua veia de rock’n´roll, diria Rita Redshoes. Os que se seguiram, foram dos melhores momentos da noite. Em “Love, What Is It?”, tira os sapatos e o tema tem direito a “mini solos” de guitarra de Paulo Furtado e Ricardo Fiel.
Paulo Furtado fica para mais um tema, desta vez um inédito. A música "Fever", popularizada por Peggy Lee, transforma-se em jogo de insinuação e sedução entre os dois e acaba com Rita na bateria, a remontar aos tempos que era baterista no grupo de teatro "Ita Vero". O momento foi curto mas valeu a pena, a provar que Rita arrisca e arrisca bem.
Com “Hey Tom”, volta à guitarra e com “Marching In This Life” lança um ultimato: “Não se querem levantar?”. O público obedece. “Ah, estamos vivos!” e a Aula Magna dança.
No encore o palco torna-se sala acolhedora, com um piano cheio de pequenas luzes a meio da sala, contrabaixo, acordeão e bateria simplificada. Antes Rita Redshoes já tinha andado pelo meio da sala, acompanhada pelo guitarrista, os holofotes sobre ela. Seguiu-se o primeiro single “Dream on Girl” e o fantástico e renovado “Oh My Mr. Blue”.
Rita confessa-se e diz que este concerto é “um sonho tornado realidade”. Quando se deitar, conta, vai ter um grande sorriso nos lábios. É hora de dizer adeus, portanto. A despedida faz-se ao som country de “I Came to Say Goodbye”. O banjo ouve-se ao fundo e Rita caminha pela sala. De aperto de mão em aperto de mão diz adeus, mas também 'até à próxima'. Venham mais sonhos para concretizar.
Texto @Vera Moutinho
Fotos @Rita Afonso
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