Maria Bethânia era o nome que se ouvia na boca do público que esperava pacientemente para entrar no anfitreatro, durante a noite de anteontem, dia 24 de Julho. Pessoas de todas as idades, mas principalmente adultas aguardavam por aquele que seria um concerto pautado por ritmos quentes e baladas, falando sobre o amor, a saudade e o caboclo.

Vestidos a rigor, falando em sotaque português ou brasileiro, continuava a entrar no Coliseu, mesmo depois do espectáculo começar. O público das tribunas começou a bater palmas, pontualmente às 22h00, hora para a qual o início do concerto estava agendado. Minutos depois, as luzes ficaram a meio tom e assim que a sala ficou repleta ouviu-se a voz de Maria Bethânia começou a cantar o tema Vida, mesmo antes das cortinas se abrirem.

Ao levantar o pano, o palco ficou iluminado e o público pôde deslumbrar a intérprete vestida com umas calças pretas e uma camisa branca, na frente de rosas vermelhas, pisando um chão de pétalas, com seus pés descalços. Em cada extremidade do palco tocava uma parte da banda que durante uma hora e meia, acompanhou a “Abelha Mestra”.

Antes de cantar Encanteria, canção que dá nome ao último álbum da cantora, lançado em 2009, Maria Bethânia leu o poema de Wally Salomão, “Olho de Lince”. A artista leu o texto com convicção, empunhando uma folha de papel na mão, que deixou cair no chão antes de pronunciar a última frase do poema “Quem fala de mim tem paixão”. Ao som de Encanteria surgem umas luzes por entre a faixa de rosas, personificando a luz da lamparina que Bethânia canta num dos versos.

Depois de Linha de Caboclo chega a vez das baladas que cantam o amor. Para dar voz a Éo Amor Outra Vez e Nosso Amor, Maria Bethânia senta-se numa cadeira. A onda de aplausos depois destas músicas deu origem à primeira interacção da cantora com o público, ao agradecer a ovação.

Maria Bethânia cantou os primeiros versos de Explode Coração “a capella”, logo depois de o público aplaudir ao reconhecer de imediato o tema retirado do álbum “Álibi”, lançado em 1978. De seguida, volta a sentar-se desta vez para cantar uma música do seu irmão, Caetano Veloso. Queixa não foi a única canção de Caetano cantada por Bethânia. A intérprete deu voz a Não Identificado, depois de ter saído do palco e regressar toda vestida de branco. Na sua ausência os dois guitarristas, dois percussionistas, o baterista e o teclista e acordeonista entretiveram o público com um medley de seis músicas.

Para fazer a transição de Não Identificado para Estrela, a cantora explicou, em jeito ensaiado, que o tema de Caetano era um dos preferidos de seu pai que o dedicava a sua esposa em silêncio, tal como ela dedica o seu canto à sua mãe.

Chega a vez de cantar o Brasil caboclo com as músicas Serra da Boa Esperança e Guaritã. Maria Bethânia explica que gosta de evocar o Brasil mais profundo e tradicional para que este sobreviva ao progresso.

Foi ao som É o Amor que o público mais vibrou, cantando com a artista e aplaudindo de pé. A música seguinte, Bom dia, traz de volta a faixa de rosas vermelhas que desaparecera no final de A Serenata do Adeus.

A fechar o alinhamento do concerto estiveram as músicas Reconvexo e Encanteria, cantada novamente, mas já durante o encore. Maria Bethânia fez o tempo voar, principalmente por não se alongar nas interacções com público, quase nulas, e encadeando as canções umas nas outras, sem dar tempo ao público para suspirar. Apesar da idade avançada, a cantora provou ser ainda muito jovem, dançando, cantando e encantando a plateia durante um concerto que encheu as medidas as todos.

Confere aqui o alinhamento do concerto de Maria Bethânia no Coliseu do Porto:

1-Vida
2-Olho de Lince (poema de Wally Salomão)
3-Encanteria
4-Linha de Caboclo
5-É O Amor Outra Vez
6-Nosso Amor
7-Explode Coração
8-Queixa (Caetano Veloso)
9-Fera Ferida
10-A Serenata do Adeus
11-Balada de Gisberta
12-Não Identificado (Caetano Veloso)
13-Estrela
14-Serra da Boa Esperança
15-Guriatã
16-Saudade Dela
17-Saudade
18-É o Amor
19-Bom dia
20-Andorinha
21-Domingo
22-Reconvexo

Encore
23-Encanteria

Melanie Antunes