Durante a pandemia, com o tempo livre que a falta de trabalho proporcionou a muitos artistas, João Vieira (X-Wife, White Haus e DJ Kitten) criou o projeto Wolf Manhattan, focado em Wolf, “um rapaz que escreveu umas canções, num apartamento pequenino por cima de uma loja de discos em Manhattan [área de Nova Iorque]”, recordou o músico em entrevista à agência Lusa.
A história da personagem é contada no livro “The Story of Wolf”, editado pela Stolen Books em 2022, na mesma altura que o álbum de estreia.
“No primeiro disco a intenção era reproduzir o tipo de sonoridade de algo muito ‘lo-fi’, como se fosse um rapaz que gravou umas cassetes num quarto. Houve muitas limitações impostas por mim e o André Tentúgal - produtor do primeiro disco e também deste - para que o personagem conseguisse passar esta mensagem e toda esta atmosfera de alguém que está a fazer umas canções de uma forma muito simples e muito limitada, em termos de parafernália de produção e de estúdio”, contou.
Depois de editado o primeiro álbum, a história de Wolf continuou.
“O Wolf cresceu, o espetáculo cresceu, ganhou público e este segundo disco, como é normal nas bandas, passa para um patamar acima a nível de produção e de arranjos e tudo o mais”, contou João Vieira.
No primeiro álbum, o projeto estava “limitado” a um órgão, uma caixa de ritmos e uma guitarra, mas no segundo já entra bateria, baixo, pianos, bem como “outro tipo de arranjos e outro tipo de cuidados de produção”.
“Real Life Is Overrated” acaba assim por ser “um desenvolvimento natural das coisas”.
As canções e letras são todas da autoria de João Vieira, bem como o conceito do projeto. André Tentúgal entra nos arranjos e seleção do material que é levado a estúdio.
O segundo álbum de Wolf Manhattan é “bastante diversificado”, porque João Vieira tem “demasiadas influências na cabeça”, mas há harmonia entre os 13 temas, com a voz a “ditar a ligação de todo disco”.
As letras, mantendo a lógica do projeto, “são totalmente ficção”.
“Chegando a uma certa idade já não há tanto interesse em escrever coisas do dia-a-dia, para mim. Há uma rotina que é normal e acontece na vida das pessoas, então acabo por escrever muito sobre personagens fictícias, inspiradas em pessoas que passaram pela minha vida”, partilhou, contando que gostou sempre muito de escrever e chegou a trabalhar como guionista, tendo escrito para séries de televisão.
As pessoas em quem se inspira pode nem chegar a conhecer, como a rapariga a quem achou graça no trânsito e deu origem a uma das músicas de “Real Life Is Overrated”.
“Olhei para ela e disse ‘there’s a girl in a peugeot’ e comecei a cantarolar uma música na minha cabeça, gravei no telemóvel, cheguei a casa, peguei na guitarra e compus a canção”, recordou.
O álbum de estreia teve edição em vinil, que era também um jogo de tabuleiro, além de ter sido acompanhado pela edição do livro.
Desta vez, “o disco será apenas um disco”.
“Achei que era importante, ao criar o projeto, criar uma identidade muito forte e algo que o distanciasse de outros projetos. Achei que tendo tempo para o fazer - por ser um projeto que nasceu na pandemia - poderia fazer algo mais interessante e criar algo completamente diferente”, explicou.
Ao vivo, o músico optou também por fazer diferente: “É uma performance/concerto, pode ser quase ‘stand up comedy’, às vezes até”.
No palco, com cenografia montada, desenhada e pintada pelo músico, João Vieira aparece disfarçado, encarnando uma personagem.
“O André Tentúgal é um fantasma que toca comigo. E tenho o Fernando Sousa, dos X-Wife, com um fato espacial e uma cabeleira e óculos. Há atores, um rapaz que faz hula-hoop, umas personagens do crocodilo e do coelho. Há aqui uma espécie de uma performance/concerto. Queria que fosse muito mais do que só um concerto, muito mais do que só canções”, contou.
Na primeira atuação ao vivo do projeto, no Porto, quando estava a sair do espaço onde decorreu a atuação, João Vieira ouviu duas pessoas a comentar "isto realmente foi algo de muito diferente".
“E era isso que eu queria ouvir. Não é uma performance, não é um teatro, não é só um concerto, é algo assim meio que ninguém está à espera”, disse.
Wolf Manhattan tem atuações marcadas a 1 de maio em Santa Maria da Feira, no Cineteatro António Lamoso, a 4 de maio em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, e em agosto no festival Paredes de Coura.
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