Pela história desta orquestra passa também a história da música cubana. Começou a contar-se nos anos 40, no espaço Buena Vista Social Club, em Havana, cujo nome baptizou também o disco que o grupo de músicos editou em 1997. A mediatização (e internacionalização) completar-se-ia com o documentário homónimo de Wim Wenders, dois anos depois. Hoje, a Orquestra Buena Vista Social Club mantém ainda músicos veteranos, os do mítico clube da capital cubana, mas é maioritariamente constituída por nomes das gerações seguintes.
No seu regresso a palcos nacionais, actuou na passada quarta-feira no Coliseu do Porto e ontem foi a vez do de Lisboa. O facto de ter estado no Cool Jazz Fest, em Mafra, no ano passado, não impediu que o seu concerto deste sábado voltasse a contar com casa cheia. E se por cá os músicos se sentem, de facto, em casa - como contaram ao SAPO Música -, a actuação confirmou que a sensação de familiaridade é recíproca. Um público heterogéneo, que ia dos avós aos netos, respondeu à nova chamada num ambiente que rapidamente se tornou caloroso.
Se as condições para os espectadores dançarem não eram as melhores, uma vez que foram colocadas cadeiras na plateia, a banda tentou fazê-lo por todos. Ao segundo tema, "El Rincón Caliente", já os vocalistas Carlos Calunga e Idania Valdès, os elementos mais jovens da Orquestra, dançavam quase de uma ponta à outra do palco. Mas mesmo os músicos mais velhos mantiveram sempre um embalo evidente ao longo de toda a actuação. Além dos treze elementos da formação actual, a festa não esqueceu outros já falecidos, caso de Compay Segundo, Rubén González ou Ibrahim Ferrer, homenageados em temas como o popular "Chan Chan".
Um trunfo chamado Omara
Entre sopros, percussões, cordas e teclas, a Orquestra Buena Vista Social Club despertou aplausos e vários exemplos de alegria estampada no rosto - e por vezes em alguns movimentos, quando o espaço o permitia.
Mas por mais correcta que tenha a sido a sua actuação, foi apenas um aquecimento para a entrada de Omara Portuondo. A cantora octogenária juntou-se à festa quase uma hora depois do arranque e despertou, em poucos segundos, uma reacção geral que superou todas as anteriores. Foi aí que a maioria do público se levantou das cadeiras para acolher, finalmente, aquela que seria apresentada como "a mais bonita, a mais sexy" das cubanas (expressão repetida inúmeras vezes pela banda e pelos espectadores ao longo do espectáculo).
Diga-se que Omara fez por merecer esses epítetos. Enérgica, espevitada e radiante, foi quem mais interagiu com o público, ao qual não se fartou de retribuir com um enfático "obrigadíssima".
Mal entrou em palco, tratou de atiçar um dos músicos, "o seu marido preferido", encostando-se pouco depois ao piano para vestir a pele de mulher fatal. Como a sensualidade fica bem ao lado do humor, o momento em que puxou o longo vestido cor-de-rosa, mostrando parte de uma perna, contou-se entre os mais espirituosos e aplaudidos. E os boleros que interpretou alargaram a paleta sonora de um concerto que, pouco antes da sua entrada, acusava alguma redundância - felizmente interrompida por canções como "No Me Llores Más" ou "Quizás, Quizás, Quizás". Pena que, num espectáculo de mais de hora e meia, a sua presença não tenha ido muito além dos trinta minutos. Caso contrário, a temperatura teria subido mais vezes do morno ao "caliente".
Comentários