Segundo a editora Mbari, «'Pintura Moderna' é uma consumação da pop. Porventura não da que, embora de maior impacto quotidiano, depende do protagonismo mediático dos seus mais directos intervenientes – onde, sem desprimor, a Katy Perry de hoje é a Gwen Stefani de ontem que foi a Kim Wilde de antanho, etc. – mas antes daquela que ganhou permanência na visão de certos produtores, na opção por determinados arranjos e, naturalmente, numa relativa consistência rítmica, riqueza melódica e firmeza formal. Conduzem-nos até esta conclusão os seus momentos que, especulando, poderiam ter sido gerados entre 1985 e 1989, com aquela alta costura sonora e combinação de estilo e substância que logo trazem à memória trabalhos de Stock, Aitken & Waterman, Trevor Horn, Jellybean Benitez, Vince Clarke, Bill Laswell ou Brian Eno.
Mas não falaria «Pintura Moderna» a língua dos nossos dias se não expandisse violentamente as premissas tipológicas do género. Porque – e será esse um dos seus triunfos – se inscreve de forma exemplar na tradição dos que nesse contexto alteram paradigmas. Conciliando, ao nível dos processos, verosimilhança material com distanciamento da realidade, manobra estrategicamente num jogo de sedução com a principal característica da pop de hoje: a simultânea afirmação e negação da própria vida de quem a ouve. E essa oscilação num mesmo espaço entre o eminentemente reconhecível e o profundamente abstracto – para que contribuirá também uma lírica idiomaticamente existencialista – produz apenas mais-valia estética quando inteiramente assumida. E é isso que fazem agora os Aquaparque: eles são pop-não-pop; eles são daqui mas não são bem daqui. Situá-los numa produção nacional ainda mais fragmentada do que o que se supõe só interessa se for para compreendê-los tão confortavelmente à margem de tudo quanto no meio de todos. «Pintura Moderna» está aí para desentrincheirar todas as cenas».
Videoclip de «Para Além do Bronze»:
Comentários