A fadista Mísia morreu este sábado aos 69 anos. A notícia foi confirmada pelo amigo de longa data, o escritor Richard Zimmler, nas suas redes sociais.
"Estou desolado, pois a minha velha amiga, a cantora Mísia, acabou de nos deixar. Partiu em paz, docemente, sem dores. Gostei tanto dela", partilhou Richard Zimmler na sua página de Facebook.
O escritor também confirmou a informação à Agência Lusa: “A Mísia morreu num hospital em Lisboa", disse Zimmler, remetendo para "mais tarde" outros pormenores que poderão ser fornecidos pela agência da criadora de “Mistérios do Fado” (João Monge/Manuel Paulo).
A cantora lutava há vários anos contra doença oncológica.
Mísia, que nasceu no Porto e tem ascendência espanhola, é considerada uma das mais inovadoras vozes do fado desde os anos 1990.
Protagonizou uma carreira de cerca de 34 anos, durante a qual atuou nos mais variados palcos do mundo e recebeu diferentes prémios.
Mísia iniciou-se na carreira artística na Catalunha, mas só a partir da década de 1990 se dedicou ao fado, editando o primeiro álbum, em nome próprio, em 1991, ao que se sucedeu, em 1993, "Fado" e, mais tarde, em 1998, "Garra dos sentidos", distinguido com o Prémio Charles Cross, em França.
Em “Garra dos Sentidos” gravou poemas de Natália Correia, Mário Cláudio, Lídia Jorge, José Saramago, Lobo Antunes, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, e António Botto.
Desde então a intérprete pisou os mais diferentes palcos do mundo e gravou fado e outras músicas, como canção napolitana e tangos.
"Paixões Diagonais", em que Mísia é acompanhada por Maria João Pires, foi editado em 1999, após a distinção da academia francesa, e, em 2003, com música de Carlos Paredes e textos de diferentes poetas, gravou o álbum "Canto", que lhe valeu o Prémio da Crítica Alemã.
"Drama Box" e "Ruas" são outros álbuns da intérprete que, entre outros artistas e agrupamentos, gravou com o ensemble L'Arpeggiata, da harpista e musicóloga austríaca Christina Pluhar.
Em 2013 editou o álbum “Delikatessen - Café Concerto”, que apresentou como “um menu fantástico de canções, que têm um toque bastante kitsch e cinematográfico”, que inclui um inédito de Tiago Torres da Silva, “Rasto Infinito”.
O álbum “Para Amália”, editado em maio de 2015, sucedeu “Do Primeiro Fado ao Último Tango”, também um duplo CD, que sintetiza uma carreira de 25 anos, e que apresentou em dezembro último no Teatro Trindade, em Lisboa.
Em 2022, Mísia editou o álbum "Animal Sentimental", parte de um projeto tríptico sobre trinta anos de carreira, que inclui um livro, com o mesmo título e saído no verão desse ano e estreou um novo espetáculo.
Tiago Torres da Silva, Fernando Pessoa, Mário Cláudio, Natália Correia, Vasco Graça Moura e Lídia Jorge foram os autores escolhidos por Mísia para "Animal Sentimental".
No livro, autobiográfico, a fadista conta episódios inéditos da sua carreira, recuando às memórias de infância e da adolescência, os tempos do colégio interno, gerido por freiras, no Porto, a avó catalã e a mãe, bailarina de flamenco, uma biografia, que como disse à Lusa, a partir de 1991, começou a ser fixado nos discos".
No livro, a cantora narrou a sua luta contra o cancro, que lhe foi diagnosticado três vezes.
Ao longo da sua carreira, Mísia arrecadou diferentes distinções, entre as quais a Ordem das Artes e Letras de França, em 2011, a Ordem de Mérito Civil em Portugal, o Prémio Gilda no 33.° Festival Cinema e Donne, em Itália, pela sua participação no filme “Passione”, realizado por John Turturro. Em 2012, recebeu o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional.
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