Nas redes sociais, a fadista Mísia comentou as reações do público francês à morte de Linda de Suza, intérprete de êxitos como “Um Português" que morreu no passado dia 28 de dezembro de 2022, aos 74 anos, vítima de COVID-19.
"O que a Linda de Suza viveu em França! Desprezo cínico e piadas de mau gosto da parte de muitos franceses", escreveu a cantora na sua conta no Facebook. "Agora toda a gente a quer homenagear, o mesmo público que a abandonou em vida. Demasiado tarde. Não é bonito de se ver...", acrescentou na publicação.
Teolinda Joaquina de Sousa Lança, conhecida artisticamente como Linda de Suza, nasceu em Beringel, em Beja, e emigrou para França na década de 1970.
Linda de Suza estreou-se como cantora no restaurante Chez Loisette, em Saint-Ouen, a cerca de 6,5 quilómetros a norte de Paris, onde foi descoberta pelo compositor André Pascal (1932-2001) que a apresentou, posteriormente, ao compositor Alex Alstone (1903-1982).
A etapa seguinte foi a apresentação da cantora na televisão, no programa “Rendez-Vous du Dimanche", de Michel Drucker, onde interpretou a canção "Un Portugais" (Vine Buggy/Alex Alstone), cujas vendas do ‘single’ atingiram o Disco de Platina em França em 1979.
A cantora assinara, entretanto, contrato com a discográfica Carrere, depois de recusada pela Barclay, e estava lançado o mote da sua carreira com “Um Português (Mala de Cartão)”, na qual cantou os lamentos da saudade de quem deixou o país, seguindo-se o ‘single’ "Uma moça chorava".
Linda de Suza tornou-se a cantora da comunidade emigrante portuguesa, cantando as suas dificuldades e saudades do país distante, em temas como "J'ai deux pays pour un seul coeur" ou "La Symphonie du Portugal". No seu repertório incluiu temas do cancioneiro popular, nomeadamente “Lírio Roxo” e "Malhão, Malhão", e gravou "Coimbra/Avril au Portugal".
A cantora atuou em Portugal, em 1979, e continuou a bater recordes de vendas na década de 1980, publicando o álbum “Amália/Lisboa" e ‘singles’ como "Canta Português", "L'Etrangère" ou "Comme Vous".
A sua história foi adaptada à televisão, numa minissérie intitulada “Mala de Cartão” (1988), protagonizada por Irene Papas (1919-2021).
Na década de 1990, Linda de Suza deu ainda voz a sucessos como "Simplement vivre", "Tu seras mon père", "Pars sans un adieu" e "Tiroli, Tirola".
Do seu repertório fazem parte "Holà! La Vie", de sua autoria com música de Jean Schmitt, "La Tristesse ne fait de bien à personne", de sua autoria com música de Vine Buggy, "Rien n'arrête le bonheur", "Mulher, ó Mulher", "No olhar do homen que nos ama", "Les oeillets rouges", "C'est toi que j'attendais", "Orfeu Negro", "Maria Dolores", "Canta Shimilimila" ou "Nasci para cantar"
A cantora passou por vários contratempos pessoais, que tiveram eco na imprensa: em 2010, tornou públicas as suas dificuldades financeiras e acusou o companheiro de lhe roubar a identidade; na época, afirmou que vivia com cerca de 400 euros mensais, todavia, Linda de Suza voltou aos palcos e, entre 2014 e 2017, realizou várias digressões.
Em 2020, apresentou um novo projeto, "Postais de Portugal", com qual preparava uma nova digressão que a pandemia de covid-19 obrigou a cancelar.
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