O cantor argentino apresenta o novo álbum "Lyniera" (“Vagabundo”), nos dois espetáculos previstos - domingo, na Casa da Música, no Porto, segunda-feira, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Em declarações à Lusa o músico afirmou que “há necessidade de mesclar o tango" com outras expressões musicais, como acontece com o rock”, e afirmou que tem procurado “nutrir o tango com diferenças influências musicais, desde o jazz, passando pelos blues e pelas músicas folclóricas argentina e brasileira”.

O músico definiu o tango como “um grande movimento, que, ao longo dos tempos, tem sido um ponto de encontro de músicas e vivências, com uma filosofia própria”. O tango tem “uma origem popular, canalha até, mas tem sabido cruzar-se com compositores e poetas eruditos, funcionando também a este nível como ponto de encontro”, afirmou Melingo.

O músico, que já gravou com Rodrigo Leão, traçou linhas comuns ao tango e ao fado, desde a sua origem popular ao facto de, aos dois géneros, “ser comum a melancolia, a nostalgia e todo o ambiente dramático envolvente”. “A profundidade da melancolia resulta em grandes melodias”, sublinhou Melingo, que referiu ainda “o dramatismo exacerbado” que os dois géneros cultivam. Por outro lado, o músico destacou “os ambientes marginais, como o penitenciário e o da prostituição, em que o tango cresceu”.

Nos dois espetáculos, Melingo afirmou à Lusa que irá apresentar todo o álbum “Lyniera”, assim como o seu “repertório mais importante”, atuando com o quarteto com o qual tem gravado. O quarteto é constituído por Muhammad Habbibi el Rodra Guerra, na guitarra elétrica, Marqeus Paglia, no bandonéon, Pato Cotella, no contrabaixo, e Pepo Onetto, no piano. Melingo, além da voz, toca clarinete e guitarra.

Sobre o título do álbum, o músico explicou que “Lynera” é “um termo que quer dizer ‘vagabundo’ em lunfardo, uma gíria 'argentino-uruguaia', na qual é escrito o tango”. O lunfardo terá tido origem nos emigrantes italianos que chegaram aquelas paragens sul-americanas, no século XIX. “La canción del Lineyra”, “La noche”, “Que será de ti” e “Despues de fasar” são algumas das canções que Melingo incluirá no alinhamento dos concertos.

Melingo, de 57 anos, começou por tocar com o brasileiro Milton Nascimento. Na década de 1980, quando a Argentina estava sob ditadura militar, Melingo participou em várias peças de teatro independente.

A sua participação na ópera-rock "O julgamento do Dr. Moreau", encenada por Victor Kesselman, com Los Twist, chamou a atenção e foi convidado para saxofonista dos Los Abuelos de la Nada. Deixou a Argentina e, em Espanha, criou a banda Lions in Love.

De regresso à Argentina tornou-se um cantor de tangos, o género nacional, tendo editado, em 1998, o álbum "Tangos bajos". Desde então editou mais quatro álbuns, ganhou um Prémio Gardel para o Melhor Intérprete, pelo álbum "Maldito Tango", de 2008, que lhe valeu uma nomeação para os Grammy Latinos, na categoria Melhor Álbum.

Melingo já atuou várias vezes em Portugal, quer a solo, quer em concertos de Rodrigo Leão, com quem colabora no álbum "A Mãe", no tema "No Sè Nada". Data de 2011 a última apresentação do argentino em Lisboa, com o álbum "Corazón & Hueso", no grande auditório da Fundação Gulbenkian.

O jornal inglês The Guardian, num texto sobre o músico, salientou “a extravagante teatralidade dos seus concertos" que, vaticinou, o "irá conduzir ao sucesso internacional”.

@Lusa