O álbum faz parte de um projeto que inclui um livro, que foi o ponto de partida de “Amo-te e outras coisas para te dizer”.
“A mãe deste projeto é o livro”, disse Diogo Clemente à agência Lusa, adiantando que a obra será publicada em finais de novembro, com a edição em vinil do álbum.
O músico disse que sempre teve “a perspetiva de fazer um livro” e quando o estava a preparar surgiram-lhe estas canções, umas que “tinha enterrado” e com as quais fez “paz” e outras que não teve coragem de dar a outros para cantar, pois “tinham muita pessoalidade e marcavam” a sua vida pessoal.
Para o artista, “cantar uma história de amor soa sempre ‘lame’ [foleiro], há uma sombra que cantar o amor é ‘lame’, mas grandes canções da História são canções de amor”.
“Sinto, por vezes, que se tende a sofisticar todas as coisas, e a dar uma matriz de atualidade que prevalece sempre à intemporalidade, há coisas que são elegantemente intemporais, e uma história de amor será sempre uma história de amor, assim como um Caravaggio será sempre um Caravaggio”, o pintor italiano de finais do século XVI.
“O amor será sempre o melhor motivo que a natureza tem, é o amor que pinta tudo, que traz o bem ou o mal à vida. Cantar o amor ou não cantar o amor por ser um lugar-comum, parece-me ser de pouco alcance, porque efetivamente é um lugar-comum, mas é impossível não ser um lugar-comum, só que é um lugar de infinitas abordagens”, defendeu.
Nascido em 1985, Diogo Clemente, filho do músico e fadista José Clemente, começou aos 12 anos a tocar e logo no meio do fado, num “tempo em que o cantar era uma urgência”.
Aos 14 anos, entrou no Conservatório Nacional e venceu a Grande Noite do Fado de Lisboa, em 1999. Aos 16 anos, viu-se em palco a acompanhar Carlos do Carmo, quando tinha já acompanhado outros nomes cimeiros do fado como Lenita Gentil e Alice Pires.
À Lusa, o músico afirmou que a sua vida a tocar “foi muito feliz”, tendo um “percurso maravilha, de virgem a estrela nacional”. Produziu os primeiros álbuns de Raquel Tavares e Carminho, com o músico Javier Limón participou na realização de um álbum de Mariza, de quem produziu o álbum “Fado Tradicional” (2010).
Sobre a edição do seu primeiro álbum em nome próprio, afirmou: “Não fiz força para que isso acontecesse, esperei o momento natural”, mas prometeu que se seguirão outros e revelou à Lusa a vontade de fazer álbuns em África e nos Estados Unidos, geografias musicais que gosta de visitar.
Para Diogo Clemente, “o tocar é uma necessidade para executar, efetivamente, aquilo que interessa”.
“Sou muito apaixonado pelo fado e, efetivamente, saber do fado é um prazer infinito, [o fado] é a minha música mãe, o meu berço artístico, é a língua que eu falo, e ser fadista é uma bênção muito grande”, afirmou.
Neste álbum, além do fado, Diogo Clemente visita outras sonoridades como o tango, a pop, o semba ou o jazz.
Do alinhamento de 14 temas consta o Fado do Sonho, de Frederico de Brito, no qual Diogo Clemente gravou “Senta-te à mesa”, de sua autoria, acompanhando-se em guitarra nylon.
Todos os temas do álbum, música e letra, são de autoria de Diogo Clemente, exceto “Senta-te à Mesa”, música de Frederico de Brito, e “Quando Alguém Falar”, música de Cristóvão Bastos, que o acompanha ao piano.
Inicialmente o músico considerou que um álbum com 14 temas “era muito”. “Mas depois comecei a ouvir tudo de seguida, e as linguagens musicais rodam muito, decidi colocar os temas todos”.
“O disco está muito dentro do que são as minhas influências, naturalmente sou filho do fado e tudo tem esse perfume em cima, mas sem dúvida que a minha paixão pelo tango, pelo flamenco, pela música popular brasileira, pelo jazz, está lá”, afirmou.
Diogo Clemente é acompanhado por vários músicos, como o contrabaixista Rodrigo Correia, o baterista Joel Silva, o guitarrista Ângelo Freire, ou o “sublime” quarteto de cordas formado por Ana Pereira e José Pereira (violinos) Joana Cipriano (viola d’arco) e Marco Pereira (violoncelo), para além de Luciano Maia, no acordeão, e Luís Delgado, em percussão orgânica.
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