Não houve, portanto, na noite de ontem – que escapou, para contentamento geral, ao vento que habitualmente invade aquela zona ribeirinha (não conseguindo, contudo, evitar tímidas gotas de água, a partir das 02h00) -, concertos lotados ou concertos por lotar. Todas as performances garantiram, sensivelmente, igual assistência, e - caso raro nos festivais dos nossos dias - semelhantes reacções, idênticas posturas. Isto, claro está, no palco principal – o Palco TMN.

No palco secundário, apelidado de Palco TMN Moche, a situação foi outra. Com um cartaz incapaz de competir com o dos palcos secundários dos demais festivais de Verão portugueses (onde não faltam os projectos que mais hype geraram ao longo do último ano, entre outros pesos pesados da música indie e electrónica), este espaço, apesar de renovado e melhorado no que a infra-estruturas diz respeito, não conseguiu convencer os que lá se deslocaram ao cair da noite, sedentos de música. A maioria não hesitou, inclusive, em direccionar, em detrimento das actuações dos portugueses Löbo e Dr1ve, a sua atenção para as restantes atracções que preenchem o recinto à beira rio plantado, matando assim, uma a uma, a fome, a energia, e, principalmente, o tempo. Afinal, só às 22h00 começavam as festividades no grande palco.

Como habitual, a pontualidade da organização não desapontou e, pouco passava das 22h00, quando os Morcheeba – que muitos pensavam serem os protagonistas da última actuação da noite - entraram em palco.

Não eram muitas as saudades do colectivo britânico, que tinha passado pela Invicta há dois anos, aquando da edição 2008 do Super Bock Super Rock. Todavia, tinha-o feito, na altura, com uma formação diferente, que muitos fez suspirar, após hora e meia de concerto, pela insubstituível Skye Edwards, que, atendendo às preces dos seus fãs, regressou este ano à banda, e mais carismática que nunca.

Ninguém diria que Shirley Edwards já soma 36 anos de idade e – imagine-se - 16 de carreira. De imponente vestido encarnado no corpo (criado por ela própria, garantiu) e de tequilla no «papo», Skye mais parecia uma adolescente, enfeitiçada pela grandiosidade do cenário que a rodeava. Tirar os olhos da sua figura, quase hipnotizante, tal a sua boa disposição e graciosidade, era tarefa difícil. Entre apelos, gargalhadas e piadas constantes (em que nem as formas Beyoncé foram poupadas), exibiu as músicas do seu mais recente disco, “Blood Like Lemonade”, não esquecendo – até porque o público nunca o permitiria – os êxitos que consagraram o grupo nos anos 90, como Rome Wasn’t Built in a Day ou Otherwise, que, previsivelmente, foram deixados para o fim, em busca do «pico» perfeito.

O «pico» não foi, contudo, alcançado na sua plenitude, mantendo o público, invariavelmente, uma atitude passiva, ainda que apaixonada.

A actuação que se seguia deixava, no entanto, antever o abandono da postura delico-doce da assistência. A já conhecida irreverência de Alison Goldfrapp que, juntamente com Will Gregory, compõe os Goldfrapp, iria, com certeza, apimentar o ambiente, esperava-se. Errado! O ritmou aumentou, efectivamente, dando as sonoridades cool dos Morcheeba lugar à azáfama da electrónica do duo londrino. Mas o entusiasmo da multidão que, não obstante, insistia em não arredar pé da frente do palco, nem por isso. Mãos nos bolsos, braços cruzados, rostos indiferentes continuaram, inexplicavelmente, a ser a postura dominante na maioria da plateia.

(em actualização)