O espetáculo, pensado para o público infanto-juvenil, teve uma primeira versão, em 2019, na qual participavam os músicos Francisca Cortesão e Sérgio Nascimento e a escritora Isabel Minhós Martins.

Em 2021, juntaram-se os músicos Inês Sousa e Afonso Cabral, e “Mais Alto!”, uma encomenda do Lu.Ca – Teatro Luís de Camões, estreou-se naquele equipamento de Lisboa.

Depois, percorreu o país, já integrado nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

Em palco, os músicos reinterpretam temas de várias épocas, que vão sendo contextualizados por Isabel Minhós Martins.

Em 2023, regressaram ao Lu.Ca, para mais uma temporada e para cantarem “Ainda mais Alto!” “músicas criadas com intenção de chamar a atenção para várias questões”, como explicava Isabel Minhós Martins no início do espetáculo.

O disco-livro, que contará com ilustrações de Bernardo P. Carvalho, terá “entre 10 e 12 músicas”, “as mesmas dos espetáculos, mas não todas”, contou Afonso Cabral à Lusa.

De acordo com Francisca Cortesão, o livro, além de ser ilustrado, “terá as letras das músicas e provavelmente alguma contextualização de cada uma delas”.

“Acho que nem falado nem escrito será tão extenso como no concerto. A ideia deste concerto e desta banda é não apresentar as músicas no vazio, por isso não faria sentido gravarmos estas músicas, que são versões, e não as contextualizarmos”, referiu Francisca Cortesão, “super fã em criança” de álbuns como “Os Amigos do Gaspar”, “em que havia interlúdios que são texto”.

A previsão é que o álbum seja editado em abril, quando se assinalam os 50 anos da ‘Revolução dos cravos’, “e depois voltar a rodar o espetáculo e provavelmente ir acrescentando mais músicas novas”.

Em 2021, a agenda do espetáculo teve mais de 50 datas. “O convite era para fazer uma temporada no Lu.Ca e só isso já era fantástico. Depois a quantidade de concertos e de miúdos para quem tocámos isto era inimaginável”, referiu Afonso Cabral, cuja música favorita de “Mais Alto!” é “Mamãe Natureza” de Rita Lee, “que normalmente fecha o espetáculo e mete os miúdos a dançar e a correr, e há sempre danças inacreditáveis”.

Francisca Cortesão destaca como preferida “Dia de São Receber”, dos Xutos & Pontapés.

“Ao vivo conseguimos sempre uma participação gritada das crianças, que é sempre dos meus momentos favoritos dos concertos, e aqui [em estúdio] não temos [isso]. Mas espero que elas depois façam em casa”, partilhou.

Além de “Mais Alto!”, Francisca Cortesão integra também o projeto Mão Verde, que tem como público-alvo as crianças, para quem gosta “mesmo muito” de tocar.

“Estragam quase o público ‘normal’. Depois uma pessoa vai fazer um concerto às nove da noite com público ‘normal’ e parece que as pessoas estão super entediadas, quando não estão. Estão simplesmente a reagir como reagem os adultos, não estão a reagir a tudo”, disse.

O livro-disco “Mais Alto!” está a ser gravado numa cave na Estrada de Benfica, não muito longe do Jardim Zoológico, onde até junho funcionava uma igreja Baptista e que é agora um sítio de salas de ensaio e espaço de trabalho comum, ‘cowork’, e os seus fundadores, Francisca Cortesão e Afonso Cabral, esperam que venha também a ser sede de uma editora e uma empresa de agenciamento de artistas.

“O disco do ‘Mais Alto!’, ao que tudo indica, vai ser editado por nós, por este selo Louva-a-deus, que é o nome do estúdio e será também o nome das outras coisas que fizermos a partir daqui. E em termos de agenciamento temos só uma banda, Minta & The Brook Trout, mas gostaríamos de vir a ter mais”, disse Francisca Cortesão.

Oficialmente, Louva-a-deus pertence a Francisca Cortesão e Afonso Cabral, mas, sublinhou o músico, é “também um bocadinho” do técnico de som Nelson Carvalho, o “responsável técnico do espaço”, e “de todas as bandas e artistas que já se instalaram e vão instalar-se aqui”.

Minta & The Brook Trout (projeto liderado por Francisca Cortesão), You Can’t Win Charlie Brown (grupo do qual Afonso Cabral faz parte), Joana Espadinha e Benjamim estão entre os artistas e bandas que já utilizaram o novo espaço.

Com a pandemia, muitos músicos perceberam, ou reforçaram a convicção, de que “é possível fazer música em casa”, mas, sublinhou Francisca Cortesão, “é desejável não fazer só música em casa”.

“Com a pandemia, altura em que estávamos cada um preso no seu sítio a fazermos música sozinhos, mais falta ainda eu senti de espaços para trabalhar em conjunto”, referiu.

Os dois músicos fazem parte de vários projetos musicais e, a pensar nisso, imaginaram “um sítio onde se pudesse de facto fazer música em presença”. “Esperamos que o facto de estarem aqui várias bandas e várias pessoas venha a originar várias combinações de pessoas, outras músicas”, acrescentou.

A necessidade de criarem este espaço também “partiu um bocado” de terem ficado sem o 15-A, um espaço em Xabregas, também em Lisboa, que era armazém e ‘atelier’ do artista plástico e músico João Paulo Feliciano e do artista plástico Rui Toscano e também a sede da Pataca Discos, onde se gravaram álbuns de You Can’t Win Charlie Brown ou They’re Heading West.

De acordo com os músicos, o espaço, que era arrendado, foi vendido pelo proprietário e João Paulo Feliciano e Rui Toscano tiveram de o abandonar.

Francisca Cortesão lamenta que nos últimos anos vários estúdios em Lisboa tenham fechado, porque “fazem falta”: “Queremos acreditar que este espaço fazia falta e que vamos gravar aqui muitas coisas”, referiu, salientando que se trata de um estúdio comercial, que está “de portas abertas a quem cá quiser vir trabalhar”.