O grupo HHY & The Macumbas vai lançar um novo álbum, intitulado “Bom Sangue Mau”, pela editora Horror Vector, recém-criada no Porto e que já tem mais três lançamentos preparados de trabalhos de Jonathan Uliel Saldanha.

“Bom Sangue Mau” foi gravado na ‘blackbox’ do Teatro do Campo Alegre, no Porto, em 2021, ainda numa altura de limitações impostas pela pandemia de covid-19.

“Montámos o palco, as luzes, o fumo, que foram a partitura que nos organizava temporalmente ao vivo e foi gravado desta forma como se fossem concertos. Fazíamos sessões de uma hora, duas horas, em que tocávamos o que tocávamos ao vivo, mas para ninguém. Não foi uma gravação de estúdio, foi de concerto. Tem este caráter muito específico, muito urgente”, explicou à Lusa Jonathan Uliel Saldanha.

O disco que agora vai ser lançado, e que sucede a “Beheaded Totem”, de 2018, “encerra um grande ciclo” ou, nas palavras de Saldanha, uma “linguagem”, porque na sequência dele os HHY & The Macumbas reorganizaram-se internamente.

“[É a] mesma banda, [são] os mesmos elementos, mas cada um a tocar instrumentos diferentes. São os mesmos músicos, mas a tocar uma instrumentação diferente, logo aí é como se fosse um projeto completamente diferente”, que já foi apresentado no festival Waking Life do passado verão, no Crato, disse o músico e compositor.

Jonathan Uliel Saldanha afirmou que o coletivo está muito entusiasmado com esta nova fase, apesar de ser o mesmo projeto e de terem a mesma energia, agora com um “veículo” distinto.

“Bom Sangue Mau” vai ser apresentado no dia 20 de outubro no Ferro Bar, no Porto.

“Bom Sangue Mau” faz parte dos primeiros quatro lançamentos da editora Horror Vector, que nasce no Porto por iniciativa de Saldanha, de Arlen Dilsizian, do coletivo ugandês Nyege Nyege, com o qual o músico português já colabora há anos, e de Joaquim Durães, da Lovers & Lollypops.

Jonathan Uliel Saldanha contou à Lusa que, numa ocasião em que o artista português lhe mostrava trabalhos antigos, Arlen Dilsizian disse que “não fazia sentido ter tanta coisa do passado [guardada] e não ter nada disto editado”, como bandas sonoras para peças e outras composições.

“Ele propôs fazer uma editora para editar este ‘back catalogue’”, disse o músico, que realçou que a Horror Vector também vai servir para editar trabalhos do futuro, para lá do passado.

Assim, vão ser editados “Boca Muralha”, “Cygnus X-1” e “Hunt”, tendo todos os trabalhos da Horror Vector distribuição internacional pela britânica Boomkat.

De acordo com um comunicado de imprensa, “Boca Muralha” “compila uma série de peças criadas para duas vozes e eco, usadas, primeiramente, como banda sonora para o espetáculo de dança homónimo da autoria de Catarina Miranda”, em que “recorrendo a iterações de vocalizações de fonemas, constroem um mapa tridimensional de um espaço intersticial em diálogo constante com os fantasmas gerados por dois processadores de ecos arcaicos do início da era digital dos anos 80, o Korg SDD-1000 e o SDD-1200”.

Já “Cygnus X-1”, título proveniente do nome de um buraco negro da constelação homónima, “compila duas peças sobre buracos negros compostas durante dois períodos de residência: um na Holanda no telescópio de Dwingeloo, o segundo no E.S.O - European Southern Observatory no deserto de Atacama no Chile, ao lado da artista Regina de Miguel”.

“O processo de criação implicou a gravação do ruído branco proveniente de Cygnus x-1, posteriormente filtrado através do espaço de crânios humanos e animais”, pode ler-se no texto disponibilizado sobre as edições.

“Hunt” explora o lado “rítmico e [a] pulsação, a partir da superfície texturada dos materiais percussivos em movimento”.

Artista multidisciplinar com amplo trabalho na área musical, Jonathan Uliel Saldanha tem-se multiplicado em projetos – a nível nacional e internacional – e disse à Lusa que vai regressar ao festival Nyege Nyege, no Uganda, em novembro deste ano, onde vai trabalhar com diversos coletivos para preparar trabalhos a apresentar em 2024.