Palco Principal - “Utopia” é muito mais funk e soul do que hip-hop, se o compararmos com os vossos trabalhosanteriores. Porquê esta mudança?

New Max - Nós nunca nos quisemos repetir. O “B.I.” foi um disco mais R&B, porque na altura era essa a nossa influência. Tínhamos 16 ou 17 anos, a MTV estava a «estourar», ouvia-se muito Timbaland. O “Alma Cara”, lançado em 2006, já foi mais maduro, já tinha outra roupagem. Este terceiro [disco], foi lançado onze anos depois de começarmos. Hoje em dia gostamos de outras coisas, de outros estilos. Foi uma escolha natural. Tentámos ir buscar algo às décadas de 60 e 70 e, ao mesmo tempo, misturar algo de 2010.

PP -Ao mudarem de registo,não receiam que os vossos antigos fãs, ao ouviremas vossasnovas músicas,não as associem aos Expensive Soul?

Demo – Nem por isso. Acho que este discoestá com uma sonoridade Expensive Soul. Acho que os fãs também estavam à espera disto, que fôssemos robustos e que arriscássemos. Acho que, se fosse mais do mesmo, não ia ter o impacto que está a ter.

NM - Os fãs também cresceram connosco. Antes o nosso target era entre os dez e os trinta anos. Actualmente, se calhar, têm mais cinco ou seis anos e, então, acho que percebem mais esta música.

PP - Por que escolheram o nome “Utopia” para o álbum?

NM – O nome “Utopia” vem de três situações. Quando chegámos ao fim, já tínhamos o disco pronto e não tínhamos nome. Andámos a pesquisar nomes e a tentar perceber qual seria o melhor. Então, percebemos que este disco tem muitas histórias que fazem parte ou da nossa vida, ou de sonhos, ou de cenas de amigos, por vezes reais, mas muitas vezes também irreais. A outra foi por causa da capa [do álbum], porque nós, acada música associámos uma ilustração inspirada nas formas impossíveis de Escher

. O nome está também relacionado com os estilos musicais. Às vezes estás a ouvir uma música e sentes-te nos anos 60, mas a meio da música voltas a 2010. Portanto, ficas sempre na dúvida se é algo feito antigamente ou agora - o que acaba por ser utópico.

PP - Os Expensive Soul misturam tantos géneros. Porquê essa opção?

NM – Eu acho que esses géneros vêm todos do mesmo, do R&B - não o de 2010, mas sim o rhythm and blues. Todos eles são derivações daí. Nos outros discos éramos mais “salada de frutas”, porque tínhamos reagge, rock, um pouco de tudo. Este disco já é mais soul-funk-hip-hop.

PP - Neste álbum quais são as músicas que mais se destacam, para além do single O Amor É Mágico?

NM – Eu acho que são o Dou-te Nada e Celebração, que é a última música do disco…

D -A Sara é uma música forte.

NM – Sim. Mas ainda é muito cedo para dizer qual vai ser opróximo single.Temos de dar tempo ao tempo. Tocar mais para as pessoas poderem dar a sua opinião.

PP – Além da música, vocês mudaram muito o estilo dos videoclips. Este novo videoclip está muito mais elaborado, até diria muito mais profissional. A que se deve esta mudança?

D – Acaba por ser um bocado como a nossa música. Mesmo em relação aos videoclips em Portugal, só agora se está a começar a fazer algo como deve de ser. O Francisco Penim realizou o nosso videoclip. A ideia é muito definida. Encaixa muito bem na música, acho que é um vídeo como nunca fizemos. Também não queríamos que este novo videoclip fosse algo banal. Queríamos que fosse algo diferente, que fosse notícia, e acho que conseguimos isso.

PP – E como surgiu a ideia dos dois robots apaixonados?

NM – A ideia foi do Francisco. Nós até estávamos com outra ideia antes e ele falou-nos sobre esta história, enviou-nos um pré guião, pelo qual nos apaixonámos e decidimos seguir em frente. Nós entramos muito pouquinho no vídeo e acho que a piada também é essa.

PP – Fizeram dos robots umas estrelas...

NM – Sim ,são estrelas e já têm amigos no Facebook.

PP – Sim, porque vocês criaram uma página no Facebook para cada um dos robots.

NM – Exactamente. Demos vida ao Vasco e à Rita.

D – Eles também têm amiguinhos robots que já não sabemos quem são. Já lhes perdemos o rumo.

PP - O uso do Facebook e de outras redes sociais também tem sido importante para vocês?

NM - Sem dúvida. Hoje em dia quase toda a gente passa, no mínimo, duas horas por dia em redes sociais, seja no Messenger ou no Facebook, e cada vez mais se vive ali. Começam-se relações, acabam-se relações, combinam-se saídas… Achámos que era muito importante atacar esse lado e pôr as pessoas ainda mais informadas.

PP – Vocês já são amigos há muito anos e sempre tiveram paixão pela música...

D - Sim, eu fui ganhando paixão pela música. O Max vem duma família de músicos, mas eu não. Não tenho praticamente ninguém na música. Cresci com isto, com estes 11 anos de vivências, de concertos e de escrita.

PP - Mas como chegaram à conclusão que queriam formar uma banda?

D – Foi algo que surgiu.

NM – Éramos da mesma turma, tínhamos 16 anos, altura em que só fazíamos asneiras, como toda a gente. Eu já estava envolvido na música e o Demo estava a começar a escrever as primeiras letras como MC. Na altura ouvíamos muito hip-hop português e ele desafiou-me para um concurso dum programa na Antena 3, apresentado pelo José Marinho. O tema era o Dia da Luta Contra a Droga. Na altura o Demo escreveu, eu fiz o beat, a música. Quem fosse seleccionado poderia apresentar o seu tema. E fomos escolhidos entre doze temas.

D - Eu nunca tinha feito nada ao vivo, por isso dá para imaginar o disparate que foi (risos).

PP – Estavas muito nervoso?

D – Muito. Até falhava a voz e a letra. Eu nunca tinha feito isto e tudo começou como uma brincadeira. Foi algo que aconteceu por impulso nosso.

PP – Vocês são de Leça da Palmeira. Atésurgirem os Expensive Soul, não havia nenhuma grande banda oriunda de Leça, mas, depois de vocês, surgiram grupos como os Mundo Secreto e os Souls of Fire...

NM – Na altura andávamos todos na mesma escola. Os Mundo Secreto eram da mesma turma que nós. Eram mais novos,nós tínhamos reprovado.

D - Isto serve de exemplo para outras coisas, para tu veres como é que as editoras funcionam. Por exemplo, se esta fórmula vende ,a outra, que é do género, também vai vender. Não acredito que eles tenham tido tanta dificuldade para assinar por uma editora como nós tivemos. Eles já existiam como grupo mas não se conhecia nada do trabalho deles.

PP – Então vocês acabaram por lhes dar força...

D – Sem dúvida. Nós somos amigos e apoiamo-los e, às vezes, actuamos juntos em concertos. Foi óptimo sermos todos aqui de Leça, porque houve uma fase em que Leça é que estava “a bater”, na altura em que surgiram os três grupos.

PP – Voltando às vossas músicas... De todos os estilos que vocês cantam, qual aquele com que se identificam mais?

NM – Soul, acho que é mesmo o Soul.

D – Soul, Funk… não consigo escolher. Depende do momento. É como o Reagge e como o Rock -há dias em que também me apetece ouvi-los. Mas o que me faz mesmo balançar são aqueles grooves da cena Soul.

PP – A música com que vocês tiveram mais sucesso foi a Eu Não Sei, que passou imensas vezes nos "Morangos com Açúcar"...

NM – Na altura foi muito bom. Os "Morangos [com Açúcar]" estavam a estourar e nós começávamos a aparecer e foi só juntar o útil ao agradável. Deu-nos uma grande força, ajudou-nos e impulsionou-nos. Hoje em dia o nosso target já é outro e, se calhar, já não se justifica, mas na altura ajudou muito.

PP – Vocês já tocaram em muitos festivais e este ano também vão tocar no Super Bock Super Rock...

NM – E no Delta Tejo e no Rock in Rio.

PP – Qual a sensação de actuar nesses festivais? Já tiveram oportunidade de conviver com alguns músicos ou bandas conhecidos?

NM – Já estivemos com tantos…

D – O Jamiroquai, por exemplo.

NM – Com o Jamiroquai já tivemos duas vezes. Uma delas foi nos Açores. Então, foi mais giro porque deu para estarmos só nós e ele. Deu para vermos o concerto dele em cima do palco, para perceber como é que aquilo funciona.

PP – E deu para conviver mais com ele?

NM – Mais ou menos, porque ele é assim um bocado enjoado (risos). Estávamos no mesmo hotel e, na altura, eu disse para tirar uma fotografia. Tivemos com os músicos todos dele e eram na boa, enquanto que ele estava sempre aparte, sozinho com os seguranças. Mas foi fixe. Também já tocámos com os Black Eyed Peas…

D – E com o Patrice.

NM – E com a Rihanna.

D – Com as Pussycat Dolls (risos).

PP – Aposto que foi as que gostaram mais...

D – Eu digo-te, sinceramente, achei aquilo tão mau…

PP – Nem pela imagem?

D – Não, não.

NM – A Rihanna tem quase dois metros.

PP – A sério?

D – Ela é enorme e depois é corcunda (risos).

NM – Não é nada.

D – Então não é?

PP – O Demo está-se a fazer de difícil (risos)...

D – Não, não a achei nada de especial.

PP – De todos os sítios onde já actuaram, quais são vosso preferidos? Festivais,festasacadémicasou concertosem nome próprio?

NM – É assim… nasfestas académicassabes, à partida, que vais ter festa e então, se for às duas da manhã, ainda melhor, porque já está tudo com os copos (risos). Já aceitam tudo.

D – É a nossa cara, perfeitamente. Somos pessoas divertidas e gostamos de pegar com o público e brincar. Então, para nós é mesmo “a nossa praia”.

PP –É um público muito mais receptivo.

D - Muito mais.

NM – Nos festivais, as pessoas estão lá para ouvir música, mas é mais complicado em termos técnicos, porque são muitas bandas, não tens tempo para ocheck sound, é sempre tudo a abrir e, às vezes, não correm tão bem porque, tecnicamente, não nos estamos a ouvir bem, mas o público é sempre bom, é sempre fixe.

D – Sinceramente nunca tivemos aquela cena do pessoal a pensar “ah, vou virar costas e beber uma cerveja”.

NM – Os concertos normais também são bons, porque ,quem vai, é mesmo para nos ver. Geralmente conhecem as músicas todas.

PP – É um público muito mais caloroso...

NM – É, efectivamente.

PP – New Max, lançaste um álbum a solo no ano passado e tens feito alguns trabalhos de produção. Como é que arranjas tempo para conciliar isso com os Expensive Soul?

NM – Isso é que é complicado. Estou quase todos os dias no estúdio. Acabo por ter músicas a mais. Tem que se arranjar tempo. Tenho que agarrar as duas coisas até porque sou dos poucos a fazer este estilo e as pessoas procuram-me por isso. Ainda há pouco tempo gravei o disco do Filipe Gonçalves que esteve na Operação Triunfo, vai sair agora dia 21 de Julho, acho que está um grande disco. Fiz outras coisas, produzi o disco para o NBC também. Fiz músicas para o Reininho, fiz a cena dos Revistados ["GNR Revistados 25/6"].

PP –Sentiste a necessidade de fazer algo fora dos Expensive Soul, foi?

NM – Sim, porque acabo por ter muitas músicas. Queria também ter um disco mais experimental, tocar com outras pessoas também. Nós [Expensive Soul] tocámos com a Jaguar Band quase desde o nosso início e, como conheço mais músicos, fazia sentido trabalhar com eles. O “Phalasolo” deu para isso, para ter as participações que sempre sonhei ter num disco, como o Sam the Kid e o PacMan, e vai ter continuidade quando tiver tempo e músicas.

PP – E qual será o futuro dos Expensive Soul?

D – O nosso futuro é promover este disco. Dar muitos concertos, fazer muitos show cases, mostrar às pessoas que estamos de volta. Estamos com um disco novo, estamos com boa onda. Queremos dar aquela energia. Até nós temos saudades disso. As pessoas que nos esperem. Nós estamos aí, vamos tentar dar tudo o que pudermos e mostrar a nossa música com muito amor e muita magia.

Melanie Antunes