Stereossauro é metade do duo de DJs Beatbombers ao lado de DJ Ride. Juntos sagraram-se campeões do mundo de scratch em 2011, na categoria "Show", e em dezembro deste ano ficaram em terceiro lugar, na mesma distinção.
Mas Stereossauro é mais que um DJ, também é um produtor e artista plástico, com formação em design. E isso é comprovável na música que cria e remistura. “Bombas em Bombos” tem toda a escola ‘dig in’ (a pesquisa e a procura do sample perfeito) e MPC do hip hop, mas é bastante visual. Todos os sons carregam uma imagem e o resultado é um álbum com uma estética própria.
O disco começa precisamente com o tema homónimo. Os Dealema entregam rimas pesadas num instrumental explosivo, produzido em parceria com Razat. Temos desde baterias 808 a sampladas com ambientes escuros, bem ao jeito dos coletivo portuense.
“Rasga”, a segunda faixa do disco, é um momento trap music, perfeito para as pistas de dança. Sem nunca se tornar previsível, Stereossauro junta elementos como guitarras ou samples de baterias, não se limitando apenas aos tradicional 808 do trap.
“Hold On (To Love)” traz-nos outra abordagem na produção. Aqui encontramos o clássico ‘bum bap’ do rap, com um sample muito soulful. Muito próximo do que Kanye West fez no seu primeiro disco, “The College Dropout”. Uma viagem até à Motown que conta com a participação de Helena Veludo na voz e de Gonçalo Santos no Baixo. Este é também o primeiro single. Excelente tema radiofónico, cujo vídeo conta com a participação da BCN Roller Dance:
O nome de Stereossauro começou a ser mais falado quando o produtor remisturou “Verdes Anos”, de Carlos Paredes. Se o hip hop sempre esteve muito ligado à soul, então nada tem mais alma do que o nosso fado. E é isso que Steressauro faz tão bem, dar uma alma lusitana à música urbana. “Dia Um” conta com a participação de Ricardo Gordo na guitarra portuguesa. Um tema que bebe muito do dubstep, breakbeat e hip hop, em mais uma viagem sonora e visual.
E se antes estávamos em plena Lisboa, em “Sheik” vamos com Skillaz (MGDRV e Macacos do Chinês) até às arábias. As rimas são quentes e atrevidas. O instrumental tem muito bounce e o seu minimalismo, sem descurar nos pormenores, faz sobressair ainda mais o flow do MC.
A viagem pelo Médio Oriente continua com “Big Butts”, talvez a pedir uma dança do ventre. Um trap mais pesado, mas quem é que não gosta de big butts assim?
“Cool Thang” parte de uma colaboração entre os Beatbombers e o guitarrista Mr. KoochiBass. Um tema funk carregado de groove e ambientes electrónicos cheios de sintetizadores e scratchs.
“Tijuana” volta a mostrar-nos o talento de Stereossauro no scratch, mas ao contrário do que o nome sugere, não se trata de uma viagem até à América Central, embora a geografia desta mistura não seja facilmente identificável.
“Serrotes e Guilhotinas” traz-nos as rimas de Xeg. Um tema que fala de liberdade criativa e que assenta em camadas de sintetizadores, numa daquelas canções que vão crescendo quanto mais vezes a ouvimos.
Aqui chegados, ir para as arábias já deixa de ser estranho. “Gobi Dub” mistura, e muito bem, uma percurssão com sabor a deserto com a guitarra portuguesa de Ricardo Gordo e batidas 808.
“Cosmonauts” junta amigos inseparáveis, Stereossauro e DJ Ride. Aqui a eletrónica reina. São loops, sintetizadores, graves (muitos graves) e batidas sujas.
Com este equilíbrio e variedade, só podemos concluir que Stereossauro arrancou da melhor forma a sua aventura discográfica. “Bombas em Bombos” é uma autêntica viagem sónica, carregada de imagens, lugares e pessoas. Uma experiência completa, portanto, e um disco que passa a correr apesar das suas 12 faixas. Temos bomba.
@Edson Vital
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