Criada para dar nova vida a álbuns que nunca tinham saído naquele formato ou que estavam descontinuados, a editora aposta em títulos que “são autênticos clássicos e outros que foram disruptivos, mas que fazem todo o sentido nos dias de hoje”, explicou à agência Lusa Hugo Ferreira, editor e cofundador da Phonograma, juntamente com o radialista Henrique Amaro e Jorge Álvares, um dos responsáveis pela fábrica de prensagem de vinil Grama Pressing.
“Estes trabalhos envelheceram muito bem e faz sentido serem passados a mais público, a novas gerações e, também, serem recuperados por quem os viveu e que, obviamente, hoje os sente de forma diferente”, acrescentou.
O primeiro catálogo da Phonograma integra “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de José Mário Branco (originalmente editado em 1971), e “Free pop” (1987), dos Pop Dell’Arte, mas também, e pela primeira vez em vinil, o EP “Remar Remar (versão longa)” (1984), dos Xutos & Pontapés, e os longa duração “Pé na Tchôn, Karapinha na Céu” (1995), de General D, “Domingo do mundo” (1997), de Sérgio Godinho, “Música para uma nova tradição” (2010), compilação das cinco edições de Megafone, e “Capicua” (2012), de Capicua.
“É uma escolha plural”, descreve Hugo Ferreira, justificando as escolhas por serem “discos que, de alguma forma, quando os ouvimos hoje, sentimos que são trabalhos modernos” e que “apontam o futuro”.
Entre estes lançamentos está “o primeiro disco de uma rapper a cantar, Capicua”, mas também a estreia de General D, que “mostra todo o legado afrodescendente que existe em Portugal e que hoje está a dar grandes cartas na música”.
A escolha recaiu também sobre “um dos discos mais disruptivos da música moderna portuguesa”, “Free pop”, dos Pop Dell’Arte, e o álbum que “mostra uma transfiguração de um cantautor”, Sérgio Godinho.
Do projeto Megafone, de João Aguardela, surge uma compilação que surpreende: “Ouvimos hoje aquilo e pensamos: ‘Como foi possível alguém ter feito isto nesta altura?’”, sensação que se estende à audição de “Free pop”.
A Phonograma recupera ainda a versão longa de “Remar remar”, dos Xutos & Pontapés, que “estava escondida ou era mesmo desconhecida para muitos”, e relança “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, “um disco absolutamente seminal”, com que José Mário Branco “transformou completamente a música portuguesa”.
A aposta nestas reedições implica “um investimento muito grande”, porque é preciso “negociar os discos, pagar ‘royalties’, pagar a fabricação”, com “todo o cuidado no processo”:
Os grafismos são fielmente adaptados dos originais e “a prensagem é feita em [vinil de] 180 gramas”. Para a remasterização recorre-se a fitas e ficheiros originais, num processo que envolve, sempre que possível, os artistas ou seus representantes.
Com uma lista de quase meia centena de títulos compilados por Henrique Amaro, Jorge Álvares e Hugo Ferreira, há “a expectativa de trabalhar mais alguns títulos ainda este ano”, avança o também responsável por outra editora, a Omnichord.
“Vamos ter de gerir de acordo com os resultados”, reconhece Hugo Ferreira, embora a intenção passe por esta ser uma “aventura regular, com duas remessas por ano”.
Neste exercício de recuperação, a Phonograma deseja estar a lançar sementes:
“Temos a expectativa de que estes discos possam chegar a quem não viveu esta música quando ela saiu mas que hoje possa olhar para ela e pensar: ‘Nesta altura alguém estava a adivinhar o futuro, a crescer e a trilhar novos caminhos. Então porquê é que nós não fazemos o mesmo?’”, concluiu Hugo Ferreira.
Comentários