“Com as entrevistas que dei em todo o lado, apareceu-me uma nova editora, que vai divulgar melhor os meus discos”, afirmou João Miguel da Costa, no tribunal de Braga, antes de nova audiência do julgamento. Disse ainda que já tem na forja um novo CD, em que canta “o peixinho da Maria”. “Estou para ver qual será agora a Maria de Padim da Graça que me vai processar”, referiu, com ironia.

Distribuidor de bebidas de profissão e cantor nos tempos livres, João Miguel foi processado por uma vizinha, de nome Alzira, que se sentiu injuriada e difamada com um tema que alude ao “grilo da Zirinha”. A mulher, casada, mãe de três filhos e avó de um neto, pede uma indemnização de 6.000 euros, alegando que o tema insinua que os dois “tiveram um caso amoroso” e que a canção a torna alvo de chacota popular. Diz ainda que até as crianças da freguesia já cantam “o grilo da Zirinha” e que sempre que ouve o tema fica “uma pilha de nervos”. Queixa-se de que o próprio cantor já a provocou, pondo o tema a tocar no carro, “com o volume no máximo e a altas horas da noite”, fora da sua porta. Numa dessas situações, a queixosa terá dado um estalo ao cantor, o que lhe valeu uma admoestação do tribunal.

Uma vizinha de Alzira afirmou hoje, em tribunal, que a queixosa, desde que a música saiu, “nunca mais teve sossego, está sempre com depressões, sempre doente, sempre a chorar”. Disse que, em Padim, aquela é a única Zirinha que conhece e garantiu que, depois da música do arguido, a vizinha “andou no trombone de toda a freguesia”. “Foi enxovalhada por toda a gente, toda a gente cantava o grilo da Zirinha”, acrescentou.

Na primeira audiência, a queixosa ficou nervosa, desmaiou e teve de ser assistida por um médico do INEM, quando o juiz decidiu “passar” aquele tema.

A segunda sessão do julgamento foi preenchida com o depoimento de uma sobrinha da arguida, que “dissertou” sobre a conotação sexual da palavra “grilo”. Aquela testemunha, professora, manifestou-se convicta de que, com a letra daquela canção, o arguido quis sugerir que mantivera um relacionamento sexual com a tia. Hoje, a queixosa não compareceu em tribunal.

O tema da polémica chama-se “Cacei o grilo” e faz parte de um CD lançado por João Miguel da Costa, sendo por este cantado nas festas e eventos em que participa. O cantor estará, assim, a ganhar dinheiro à custa do “grilo da Zirinha”, pelo que a queixosa quer ser indemnizada. Na letra, João Miguel da Costa apresenta a Zirinha como amiga e diz que um dia lhe pediu para que a ela a deixasse tocar no “grilo”. A Zirinha “não pôs isso em questão”, não disse que não, e então o cantor começou “a apalpar”. No refrão, João Miguel repete, alegremente, “Cacei o grilo na toquinha, cacei o grilo à Zirinha”.

No banco dos réus, está ainda um amigo de João Miguel, acusado de também “ajudar à festa” da chacota à queixosa.

As alegações finais do julgamento estão marcadas para 18 de abril.

@Lusa