“Está na altura de darmos esse passo e de tornarmos isso normal [uma mulher cantar Fado de Coimbra]. Eu não o faço por mim, mas a pensar no plural, noutras mulheres e meninas que queiram abordar este estilo”, disse à agência Lusa Beatriz Villar, que apresentou pela primeira vez o seu EP de estreia este sábado, no âmbito do ciclo do Convento São Francisco “Santos da casa fazem milagres”.

A cantora considera que “o Fado de Coimbra faz todo o sentido na voz feminina”, referindo que a viragem que dá o título ao EP aponta também para uma outra mudança no panorama atual do género.

“Falta ao Fado de Coimbra profissionalizá-lo. Está sempre associado aos estudantes e à academia e falta a profissionalização do estilo musical. O Luiz Goes, José Afonso e o Adriano conseguiram dar esse salto, mas depois não houve continuidade. É isso que também estamos a tentar fazer”, aclarou.

Natural de Loulé, Beatriz Vilar (distrito de Faro), de 25 anos, cresceu em Cantanhede (distrito de Coimbra), e o fado, quer de Lisboa quer de Coimbra, esteve sempre presente em casa.

Apesar disso, só quando entrou para a universidade é que começou por explorar a Canção e Fado de Coimbra, a partir do grupo Na Cor do Avesso, com temas originais, mas em que abordava a musicalidade daquele estilo.

Mais tarde, no final de 2019, conheceu o guitarrista Diogo Mendes e a Escola de Fado de Coimbra e decidiu abordar com ele os temas tradicionais daquele género musical.

“Com a pandemia, foi um processo muito moroso, mas que acabou por fazer mais sentido no fim. Foram muitas horas passadas em estúdio para perceber o que resultaria melhor, sem certezas de nada”, conta a artista.

Apesar de compor e ter vários temas originais, decidiu, para primeiro trabalho editado, apenas gravar e apresentar temas tradicionais.

“Achámos que faria mais sentido pegar em fados tradicionais, para que as pessoas não dissessem que não é Fado de Coimbra, especialmente, por ter uma voz feminina. Queríamos assumir que é Fado de Coimbra”, disse.

Beatriz Villar vinca que é apenas uma de muitas outras mulheres que procuram reclamar uma presença feminina no Fado de Coimbra, apontando os casos de Manuela Bravo e Maria Teresa de Noronha, que acabaram “por não ter grande expressão”, talvez “por meio dos tempos em que viviam”.

A sua participação no concurso Got Talent Portugal, em 2022, acabou por ser, para além de “uma ótima rampa”, uma forma de colher a aceitação que precisava, enquanto mulher a cantar Fado de Coimbra, explica.

Para o futuro, conta lançar um álbum, esse já com temas originais, mas onde irá continuar a estar presente a musicalidade do Fado de Coimbra.

No concerto no Convento São Francisco, Beatriz Villar apresentou-se com Diogo Mendes, na guitarra portuguesa, João Ferreira na viola, Daniel Chichorro no baixo, Ricardo Mingatos na percussão, Maria Sá Silva na harpa e Vânia Couto, Rita Dias, Inês Martins e Mafalda Duarte, no coro.