A promotora desceu o valor das entradas para menos de metade no dia do concerto - decisão que partiu do próprio músico -, mas nem por isso o Lux esteve perto de esgotar para voltar a receber Bradford Cox.
O vocalista dos Deerhunter, que actuou no ano passado com a sua banda na discoteca lisboeta, regressou esta sexta-feira com as novas canções de "Logos" (2009), o segundo álbum do seu projecto mais pessoal, Atlas Sound. E além destas, interpretou outras ainda mais recentes, sendo uma delas - já no encore - dos próprios Deerhunter.
Sozinho em palco, manteve sempre a companhia da guitarra, harmónica e texturas electrónicas, os meios usados para chegar a ambientes que, tal como os dos discos, oscilaram entre a folk, o shoegaze ou a dream pop - por vezes na mesma canção.
Alguns problemas técnicos iniciais ou o som excessivamente alto não quebraram o apelo de uma actuação que, embora curta, propôs um alinhamento a espaços alucinogénio e inebriante, expresso em episódios de repentinas rajadas sónicas ou instantes mais serenos e aveludados.
A pop ondulante de "Walkabout", "Sheila" ou de algumas das novas composições condensou ecos de memórias desfocadas e agridoces (com ligação directa à infância ou adolescência), aliando nostalgia e surpresa, familiaridade e risco, mantendo os jogos de contrastes que marcam a obra de Bradford Cox.
Perto do final, ocasião em que dirigiu mais comentários ao público, o músico agradeceu a presença de todos - "É muito importante para mim estarem aqui", realçou -, brincou com algumas expressões portuguesas e, como melómano inveterado que é, aproveitou para recomendar o concerto dos também norte-americanos Ducktais na Galeria Zé dos Bois (no próximo dia 9).
Na despedida deixou ainda um "até breve" que se espera que venha a ter reflexos, seja através de um novo concerto a solo ou com os Deerhunter, até porque este deixou o efeito de sonho agradável mas infelizmente demasiado efémero.
Menos saudosa, a primeira parte foi entregue aos Aquaparque. A actuação, assente em várias canções inéditas, mostrou que as ocasionais boas ideias instrumentais ainda não têm contraponto em vozes que nem sempre casam bem com esses ambientes - e que, de resto, por vezes até podiam prescindir de acompanhamento vocal. Mas o melhor será aguardar e confirmar o resultado final destas canções no segundo álbum do duo, que deverá ser gravado neste Verão.
Texto e foto@Gonçalo Sá
Atlas Sound e Noah Lennox - "Walkabout":
Atlas Sound e Laetitia Sadier - "Quick Canal":
Comentários