Muitos analistas acreditam que Will Smith será nomeado para os Óscares pela terceira vez e é o favorito para ganhar finalmente a estatueta de Melhor Ator pelo filme "King Richard: Para Além do Jogo", onde interpreta Richard Williams, o pai e treinador que planeou a carreira meteórica das filhas Venus e Serena Williams no ténis antes mesmo de elas nascerem.

O filme já está nos cinemas portugueses e é aprovado pelas campeãs, que o descrevem como “surreal” e “emotivo”, uma "obra brilhante". Também foi aclamado pelos críticos, embora alguns discordem da história parar em 1994, com as irmãs no início da adolescência, e do que descrevem como uma 'santificação' de Richard Williams que omite partes mais controversas da sua vida e personalidade.

Também uma meia-irmã, Sabrina Williams, não gostou do retrato do seu pai e acha que o filme é uma "comédia". E em vez do Óscar, Will Smith "devia ter vergonha de si mesmo" pelo seu papel na produção.

Com 57 anos, a norte-americana trabalha como capelã numa unidade de cuidados paliativos e teve uma vida muito diferente das suas famosas meias-irmãs, com quem coincidiu apenas uma vez por acaso quando eram adolescentes, num parque de diversões: no início dos anos 1960, Richard Williams, agora com 79 anos e debilitado após dois acidentes vasculares cerebrais, disse que ia comprar uma bicicleta e nunca mais voltou, abandonando a esposa e cinco filhos, incluindo uma bebé de oito semanas.

"É uma comédia, não é? Como é que se pode fazer um filme contando metade da história? Começa de repente com o pai e a sua nova esposa Oracene e as filhas deles. É como se nada tivesse acontecido antes", disse Sabrina Williams em entrevista ao The Sun, rindo do filme por esquecer completamente a primeira família.

"Acho o título um exagero completo. Ele acha que é o rei do mundo, mas ninguém que alguma vez tenha estado à volta dele acha que ele é o 'King Richard' [Rei Ricardo]. É um título ultrajante, mas, verdade seja dita, assenta nele", acrescenta ao tablóide britânico sobre o filme realizado por Reinaldo Marcus Green.

"Ele não é o rei do mundo. Se se olhar para ele psicologicamente, é algo que ele nunca conquistou a não ser na sua cabeça, ele viveu apenas através de duas das suas filhas, abandonando todos os outros filhos. Agora tenho de o ver [o filme] porque não percebi como seria histericamente engraçado. Uma das coisas que terei de fazer é não rir alto no cinema pois conheço a história completa", continuou.

Após o abandono, Sabrina e os irmãos apenas viram o progenitor algumas vezes ao longo dos anos: "Ele não se esqueceu de nós, apenas nos colocou num compartimento. Você sabe que essa parte do seu mundo existe, mas simplesmente não quer lidar com isso - e é uma coisa triste. Ele escolheu o ténis para elas pois sabia que isso também poderia torná-lo rico".

“Não acho que isso deveria dominar o filme todo, mas para dar mais alguma credibilidade, pelo menos referi-lo, já que ele nos deixou quando era um homem adulto. Alguém acredita nesta história? A sério, está tudo no Google", recorda a sua filha.

"Eu percebo, todos os filmes são ligeiramente económicos com a verdade, mas por se tratar da Venus e da Serena, ninguém vai dizer nada de mal delas ou fazer parecer que fizeram parte de algo mau. Verdade seja dita, aquelas raparigas chegaram ao topo enquanto os outros filhos tiveram que sofrer por causa das escolhas que o meu pai fez, fomos criados na pobreza depois de ele ter ido embora", recordou.

“Dizem que o Will Smith provavelmente vai ganhar um Óscar por isto. Admirei-o profundamente, mas, enquanto afro-americano, deveria querer contar a história toda. Will Smith não é burro. Elas puderam crescer melhor e não precisaram trabalhar para comer ou preocuparem-se com a próxima refeição. Teria sido simpático ter uma história de fundo", lamenta.

Em relação ao ator, produtor e grande impulsionador de "King Richard", Sabrina Williams acaba por dizer que "devia ter vergonha de si mesmo". Sobre o pai, garante que não sente raiva, apenas pena.

TRAILER "KING RICHARD".