Camiões de estações de televisão de todo o mundo já rodeavam na manhã deste domingo o Palais des Festivals, onde ocorre durante a noite a cerimónia de encerramento do 64º Festival de Cannes, que teve início no dia 11 de Maio com a comédia de Woody Allen,
«Midnight in Paris».

Este Festival entrará para a história como o primeiro no qual um dos cineastas que aspiram à Palma de Ouro, o dinamarquês Lars von Trier, foi declarado «persona non grata», após declarar a sua «simpatia» por Hitler.

O seu filme,
«Melancholia», não foi excluído do concurso pela Palma de Ouro, no qual participam 20 obras, mas, de acordo com os críticos em Cannes, estas frases lhe custaram o prémio.

No entanto, a crítica não descarta que a estrela deste filme, Kirsten Dunst, de 28 anos e que ficou conhecida em seu papel em «Marie Antoinette», conquiste o prémio de melhor actriz, disputado também pela escocesa Tilda Swinton em
«We Need To Talk About Kevin» e por Elena Anaya, pelo suspense
«La Piel Que Habito», de Pedro Almodóvar.

Esta edição do Festival também será lembrada por ser a primeira na qual um filme em 3D foi seleccionado para concorrer à Palma de Ouro.

Takashi Miike, realizador do selvagem «Ichi the Killer» e cujo filme «13 Killers» deixou marca no ano passado no Festival de Veneza, levou a Cannes o drama
«Hara-Kiri», que conta a história de um samurai sem recursos que deseja morrer com dignidade.

O filme deste cineasta, que alguns chamam de Tarantino japonês pelos excessos de violência que são característicos da sua obra - chamou a atenção em Cannes sobretudo por ser um filme bastante clássico apresentado em três dimensões, que é um recurso utilizado sobretudo em desenhos animados.

«Como realizador de cinema, é natural sentir-me feliz com as novas possibilidades que se abrem. Imagino-me daqui a 20 anos, quando o 3D for a regra, contando aos meus netos que nos velhos tempos ainda debatíamos se o 2D era uma opção melhor», declarou em Cannes Miike, cujo nome não está entre os favoritos para levar o maior prémio do Festival.

Os principais críticos afirmam que a Palma de Ouro irá para as mãos do finlandês Aki Kaurismäki com «Le Havre», que misturou luz e optimismo nma fábula sobre a imigração.

O americano Terrence Malick pode também ser um forte candidato por «A Árvore da Vida», onde o enigmático realizador americano, que não voltava a Cannes desde 1979 faz um canto à criação do universo, ao mesmo tempo em que retrata a infância de um menino no sul dos Estados Unidos.

Também podem conquistar o maior prémio de Cannes os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, da Bélgica, que já têm duas Palmas de Ouro, mas cuja fita «Le gamin au vélo» recebeu aplausos unânimes. O mesmo não se passou com o filme de Almodóvar, «La Piel Que Habito», mal recebido por parte da crítica.

O cineasta espanhol nunca foi recompensado com a Palma de Ouro, que pode escapar novamente das suas mãos neste ano.

Uma longa-metragem que foi ovacionado pela plateia foi «The Artist», de Michel Hazanavicius, que teve a audácia de realizar, em tempos de 3D, um filme mudo, rodado em preto e branco, que recria a era do nascimento do cinema falado nos anos 20 em Hollywood.

O actor desta pequena jóia, Jean Dujardin, pode ser recompensado por Cannes, e o mesmo pode acontecer à sua co-protagonista, a argentina Berenice Béjo.

Para o prémio de intérprete masculino o nome mais apontado é o do americano Sean Penn, de 50 anos, que impressionou muitos com seu papel de um depressivo ex-astro do rock em
«This must be the place», de Paolo Sorrentino.

Caso conquiste o galardão, será a segunda vez que Cannes coroa Penn, que já saiu vitorioso em 1997 por «Loucos de amor», de Nick Cassavetes.

Mas por enquanto tudo se resume a especulações, enquanto se aguarda a decisão do júri presidido por Robert De Niro, que se reuniu novamente este domingo para tomar as últimas decisões.

SAPO/AFP