O realizador norte-americano Brady Corbet agitou a Mostra do Festival de Veneza no domingo com "The Brutalist" (“O Brutalista”, em tradução literal), um filme de 205 minutos que prende o espectador com a história de um arquiteto que escapa do Holocausto para cair nas mãos de um filantropo despótico nos EUA.

“É a história de uma personagem que foge do fascismo para encontrar o capitalismo”, disse Corbet na conferência de imprensa antes da estreia do filme em competição, onde foi ovacionado durante 12 minutos, e reações de grande entusiasmo da crítica especializada.

O 81º Festival de Cinema de Veneza chegou à metade com 21 filmes em competição e um elenco particularmente abundante de estrelas este ano.

A Mostra é uma boa plataforma de ensaio de Hollywood antes das nomeações aos Óscares e "The Brutalist", e a atuação primorosa de Adrien Brody, é um bom exemplo disso.

O ator interpreta o arquiteto húngaro László Tóth, num papel que lembra aquele que lhe rendeu o Óscar por “O Pianista” (2002), de Roman Polanski.

Tóth sobreviveu ao inferno nazi e chega aos EUA depois de deixar para trás esposa e sobrinha, presas em território agora sob controlo soviético.

O húngaro chega emocionalmente abalado à Pensilvânia, mas com as suas faculdades profissionais intactas, depois de ter construído edifícios emblemáticos de estilo Bauhaus por toda a Europa.

Lá conhece um empresário rico e megalomaníaco (Guy Pearce) que percebe que este arquiteto pode concretizar os seus delírios de grandeza.

O empresário encomenda-lhe a construção de um enorme centro religioso e comunitário para a pequena cidade que domina, e esta missão torna-se num novo teste de resistência psicológica, de sobrevivência, para Tóth e depois para a sua pequena família.

"The Brutalist" é um filme inusitado, mesmo com um intervalo de 15 minutos para deixar respirar o público.

O filme mistura arte, arquitetura, amor, história contemporânea e uma banda sonora que contribui para a tensão. E tudo isto foi filmado com um sistema analógico de 70mm, o VistaVision, o primeiro filme americano completo a fazê-lo desde "Cinco Anos Depois", de e com Marlon Brando, de 1961.

"Este foi um filme incrivelmente difícil de fazer. Trabalhei nele durante sete anos", explicou Corbet, entusiasmado, que como ator filmou sob a direção de Lars von Trier ("Melancolia") e Michael Haneke ("Brincadeiras Perigosas").

Como realizador, foi o autor de "A Infância de um Líder" (2015) e "Vox Lux" (2018), com Natalie Portman.

A cenografia e o argumento (escrito a meias com a sua esposa, Mona Fastvold) são tão verosímeis que Corbet teve que esclarecer que tudo era ficção.

"Este é, infelizmente, um filme de ficção. Para mim é a única forma de aceder ao passado. E é um filme dedicado a todos os artistas que não conseguiram concretizar as suas visões", explicou em Veneza.

Isaach De Bankole, Adrien Brody, Raffey Cassidy, Emma Laird, Mona Fastvold e o realizador Brady Corbet na apresentação de "The Brutalist"

No filme, Tóth concebe um edifício que relembra o horror que viveu no campo de concentração, e este projeto ameaça arruinar a sua vida e a do empresário que a tem sob o seu controlo.

Para o papel, Adrien Brody revelou que se lembrou do caso da sua mãe, uma fotógrafa húngara que se estabeleceu nos EUA fugindo da repressão soviética em 1956.

Embora a personagem do arquiteto seja fictícia, “é muito real para mim”, explicou.

"A minha mãe [Sylvia Plachy] é fotógrafa nova-iorquina, mas também é uma imigrante húngara, que fugiu da Hungria em 1956 e se refugiou nos EUA, e um pouco como László, teve que começar tudo de novo e perseguir o sonho de se tornar uma artista", notou.

E continuou: “É uma ficção que parece muito real, é muito importante para mim tornar a personagem real. O filme não representa apenas o passado, mas deve lembrar-nos desse passado e o que devemos aprender com ele para o nosso presente.”

“Havia uma sensação de urgência neste filme”, acrescentou Felicity Jones ("A Teoria de Tudo", "Rogue One: Uma História de Star Wars"), que interpreta a esposa do arquiteto.

No elenco surgem ainda Joe Alwyn, Alessandro Nivola, Jonathan Hyde, Isaach De Bankolé, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Emma Laird e Peter Polycarpou.

A Mostra anunciará os vencedores no sábado, 7 de setembro.