O funeral do realizador Bertrand Blier, o inconformista do cinema francês, teve lugar na manhã de quarta-feira em Paris, na presença de muitas personalidades nacionais, incluindo Jean Dujardin e Albert Dupontel, além de Josiane Balasko, que filmou às suas ordens nomeadamente em "Bela Demais para Ti" (1989) e "Le Bruit des glaçons" (2010).

Colocada sob o signo da meditação mas também da truculência que caracterizou o cineasta falecido aos 85 anos, a cerimónia juntou 200 pessoas.

Foi apresentada uma montagem dos diálogos mais famosos do destacado argumentista que também foi Bertrand Blier, incluindo os de Gérard Depardieu, ausente da cerimónia e envolvido em vários escândalos sexuais e processos judiciais, no controverso “As Bailarinas” (1974), um dos filmes que lhe valeram críticas “pela misoginia e pela forma como retratou a predominância masculina”.

Também estiveram presentes Claude Lelouch, Catherine Frot, Bernard Murat, Edouard Baer, ​​​​Vincent Pérez, Karine Sylla, Valeria Bruni-Tedeschi, Dominique Besnehard e Hiromi Rollin, a última parceira de Alain Delon e assistente de realização em vários filmes de Bertrand Blier.

Valeria Bruni-Tedeschi

Protagonistas de "Le Bruit des glaçons", Albert Dupontel e Jean Dujardin revezaram-se na saudação ao falecido realizador 'que soube fazer felizes os seus atores'.

Perante o caixão do cineasta, Josiane Balasko e Damien Bonnard, recrutado por Bertrand Blier para o mesmo filme, reconstituíram uma cena hilariante de “Crimes a Sangue Frio” (1979) entre Michel Serrault e Gérard Depardieu.

Por sua vez, o padre Laurent Chauvin, capelão dos artistas, prestou homenagem ao 'agitador brincalhão do cinema francês, homem da palavra e perturbador cultural” que, com a sua morte, assinou 'a sua última provocação'.

Parafraseando por sua vez um famoso diálogo de Depardieu em "As Bailarinas", o padre lançou no início da sua homilia: "Não estamos aqui confortáveis, relaxados no espírito?", a "resposta rabelaisiana de um homem de coração trocista e terno que conheceu quatro gerações de técnicos, atores e espectadores" [uma referência ao padre, médico e escritor do século XVI François Rabelais, autor da obra-prima cómica "Gargantua & Pantagruel"].

De forma privada, Bertrand Blier viria a ser enterrado à tarde no cemitério de Montmartre, em Paris.

“Hitler, connais pas” (1963) valeu-lhe um prémio de primeiras obras em Locarno (Suíça) e com “Bela Demais Para Ti” venceu o Grande Prémio do Júri em Cannes. Com "O Meu Homem" (1996), Anouk Grinberg recebeu o prémio de Melhor Atriz no Festival de Berlim.

"Bela Demais para Ti" recebeu cinco Césars, os 'Óscares franceses', incluindo o de Melhor Filme, Realização e Argumento. Foi ainda distinguido com os prémios da Academia Francesa pelos argumentos de "Crimes a Sangue Frio" e "Notre Histoire" (1984).