Robert De Niro não resistiu a crticar Donald Trump em Cannes no domingo, dizendo que a sua personagem no novo filme de Martin Scorsese incorporava o mesmo tipo de "maldade" do ex-presidente dos EUA.

O lendário ator, de 79 anos, é protagonista ao lado de Leonardo DiCaprio do épico "Killers of the Flower Moon", que estreou com boas críticas no Festival de Cinema de Cannes no sábado.

Ele interpreta um criador de gado que existiu mesmo na América rural dos anos 1920, William Hale, que conquistou a confiança dos índios Osage locais e depois orquestrou dezenas de assassinatos para roubar as suas terras ricas em petróleo.

"Não percebo muito sobre ele - por que razão ele os trai", admitiu De Niro aos jornalistas em Cannes.

“Mas ficamos muito mais conscientes após o assassinato de George Floyd com racismo sistémico e é isso que é”, notou, referindo-se ao assassinato da polícia que desencadeou os protestos do Black Lives Matter.

"É a banalidade do mal, é com isso que precisamos ter cuidado. Todos sabemos sobre quem é que vou falar - não direi o nome dele", continuou De Niro.

Mas alguns momentos depois, o há muito crítico de Trump não se conseguiu conter.

"É como com Trump - tinha de dizer isso", disse ele perante os risos da imprensa.

"Há pessoas que acham que ele poderia fazer um bom trabalho. Imaginem como isso é de loucos", apontou.

DiCaprio recebeu elogios especiais pela sua atuação como um homem obstinado, dividido entre o amor pela sua esposa índia Osage e a trama maligna em que se envolve.

"Amor, confiança e traição"

Chamando o filme de três horas e meia de "um acerto de contas com o nosso passado", a estrela elogiou Scorsese, dizendo: "Ele é capaz de expor a humanidade até mesmo das personagens mais distorcidas que possam imaginar".

"A perseverança e ferocidade de Marty para dizer a verdade, não importa o quão feia... é magistral", acrescentou.

Scorsese disse que o filme, que chegará aos cinemas em outubro (dia 19 em Portugal), não é "sobre quem o fez - é sobre quem não o fez".

Adaptando um 'best-seller' de não ficção, ele optou por se concentrar menos na investigação criminal que ajudou a forjar o FBI, preferindo concentrar-se no caso de amor venenoso central entre a personagem de DiCaprio e a sua esposa, interpretada por Lily Gladstone.

"Foi um modelo para aquela tragédia de amor, confiança e traição dos povos indígenas", disse Scorsese.

Questionado sobre ainda correr tantos riscos no seu cinema aos 80 anos, Scorsese arrancou risos da multidão ao dizer: "O que mais vou eu fazer?".

De Niro disse que o mundo já viu filmes suficientes em que "o bom da fita vai para o sul ou para o interior dos territórios indígenas e salva o dia. Isto é muito mais importante".