A caminho dos
Óscares 2025
A vitória de Demi Moore nos Globos de Ouro como Melhor Atriz em Comédia ou Musical por “A Substância” fez com que ela se tornasse favorita aos Óscares quase da noite para o dia.
No seu discurso de agradecimento no domingo, Demi Moore, de 62 anos, que já foi manchete pela sua vida amorosa, capas de revistas e papéis principais em filmes de grande sucesso, disse que, durante muito tempo, foi descartada como “atriz pipoca” e nunca “ganhou nada como artista”.
VEJA O DISCURSO DE DEMI MOORE.
No entanto, para Coralie Fargeat, a realizadora francesa que também escreveu o filme de terror corporal [body horror] que trouxe Moore de volta, não há nada de surpreendente no reconhecimento que a sua protagonista está a receber nesta fase da sua carreira.
“É muito emocionante ver a Demi naquele palco”, disse a cineasta à agência France-Presse na segunda-feira.
O filme permite que o público “veja quem ela é como atriz, sem projetar o estereótipo de que ‘se é bonita, não pode ser boa atriz’”.
“Estão a falar sobre o seu regresso, mas ela esteve sempre aqui”, enfatizou Fargeat.
A obsessão da sociedade em classificar as mulheres e colocar um prazo de validade nelas é a premissa central de “A Substância”.
No filme, distribuído globalmente pela MUBI, Elisabeth (a personagem de Moore) é uma estrela em declínio que é abruptamente despedida do seu programa de TV no dia do seu aniversário dos 50 anos.
Em desespero, ela recorre a uma substância misteriosa que lhe permite viver num corpo mais jovem, com uma condição: ela deve alternar semanalmente entre a nova figura e a sua fisionomia real.
A tentação de permanecer jovem torna-se muito forte, especialmente para o alter ego de Elisabeth, uma jovem deslumbrante e ambiciosa que é catapultada para a fama por executivos sinistros.
"Boas interpretações"
Fargeat é fã do trabalho de Moore, que inclui sucessos como “Proposta Indecente” e “Ghost - O Espírito do Amor”, assim como o mais polarizador “G.I. Jane - Até ao Limite”.
“Posso gostar ou não dos filmes, mas as suas interpretações foram sempre boas”, disse a realizadora.
No entanto, a vida de Moore também 'representou essa estrela icónica' em “A Substância”.
“Alguém que foi valorizado por esse sonho, essa falsa promessa de que se for jovem e bonito, será feliz e bem-sucedido”, notou.
“E quando isso desaparece, é como se a sua vida inteira desaparecesse”, acrescentou.
Apesar disso, a escolha de Moore para o papel de Elisabeth quase foi frustrada.
A princípio, Fargeat supôs que a atriz não estaria interessada num papel que exigia nudez e inúmeras cenas sangrentas e decadentes.
Mas depois leu “Inside Out”, a biografia de Moore publicada em 2019, na qual ela fala sobre as suas batalhas contra o preconceito de idade e a misoginia, além de vícios, abusos e separações bastante divulgadas.
“Quando li o livro, realmente senti que ela estava pronta para assumir o tipo de risco que o filme exigia”, disse Fargeat.
As primeiras conversas giraram em torno da grande quantidade de nudez completa, talvez pouco favorecedora, que a visão de Fargeat exigia.
“O filme é realmente sobre os corpos das mulheres. Queria contar as minhas histórias de forma carnal”, disse a cineasta.
Fargeat também admite que foi uma realizadora exigente e meticulosa no set, o que exigiu “muitas tomadas”.
Moore comentou sobre ter perdido nove quilos e contraído a infeção herpes zoster devido à intensidade das filmagens, enquanto a coprotagonista Margaret Qualley descreveu os fatos prostéticos como uma “tortura” que provocava ataques de pânico.
“Se a protagonista não estiver preparada para ir tão longe, o filme todo desfaz-se”, disse Fargeat.
Moore “assumiu o risco de seguir a visão do filme (...) isso vale muito”, acrescentou.
Óscar
Com a vitória nos Globos de Ouro, “A Substância” ganhará mais visibilidade, tanto do público quanto dos votantes dos Óscares, que farão as suas escolhas até domingo. As nomeações serão anunciadas no dia 17.
Fargeat pode ser nomeada para Melhor Realização e Argumento Original (premiado já no Festival de Cannes), enquanto o filme pode concorrer a Melhor Filme.
Agora, alguns estão a apostar que Moore lutará pela estatueta de Melhor Atriz.
“Desde o início, acreditei que isso poderia acontecer”, disse Fargeat. "É disso que se trata o cinema, criar coisas que as pessoas não esperam.”
“Sinto-me muito orgulhosa por ter criado isso”.
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