Ausente de Cannes há quase três décadas, a atriz norte-americana Demi Moore regressou pela porta branca como a protagonista de um filme de terror feminista, “The Substance”, que concorre à Palma de Ouro.

A atriz de 61 anos foi um dos ícones do cinema dos anos 1990, com sucessos como “Ghost”, "Proposta Indecente" e “G.I. Jane”, antes de sofrer uma certa recessão a partir dos anos 2000.

Para “The Substance” coloca-se ao serviço da realizadora francesa Coralie Fargeat, que se destacou em 2017 com a sua primeira longa-metragem, “Vendeta”.

Apresentado em antestreia mundial no domingo à noite de domingo, recebeu 13 minutos de aplausos, recordista até ao momento no festival, mas também risos e algumas reações de nojo do público.

“É o início de um terceiro ato na carreira de Demi, é encorajador”, explicou o seu parceiro no filme, o também norte-americano Dennis Quaid, na conferência de imprensa esta segunda-feira.

"The Substance"

A “substância” a que se refere o título permite que a pessoa injetada produza o seu alter ego, uma versão mais jovem e bonita de si mesma.

Para Elisabeth Sparkle, atriz consagrada vencedora de um Óscar transformada em estrela do fitness da TV e mesmo assim despedida aos 50 anos (papel de Demi Moore, deslumbrante ao envelhecer artificialmente), a tentação é grande.

Assim 'nasce' o seu avatar Sue (a norte-americana Margaret Qualley, igualmente convincente tanto angelical como demoníaca), enquanto pela frente tem um produtor grosseiro (Dennis Quaid).

A única condição para não se colocarem uma à outra em perigo é que ambas devem partilhar de maneira equitativa o seu tempo no mundo exterior, uma de cada vez. Mas Sue sempre quer mais...

Após fazer o seu primeiro filme de terror sobre violação, Fargeat desta vez volta-se para o corpo feminino, "problemático desde tenra idade, quando não é perfeito ou muito grande, e depois quando envelhece".

“O nosso corpo define-nos, gera desigualdades e violência, também da nossa parte. Somos quase necessariamente levados a odiá-lo de uma forma ou de outra e podemos tornar-nos o nosso primeiro instrumento de tortura”, explica a realizadora de 48 anos à France-Presse.

Ambas as atrizes “têm sido incríveis, correram muitos riscos” ao participar no projeto, avalia.

“Foi o desafio ideal. Estou sempre à procura de histórias que me tirem da minha zona de conforto”, disse a própria Demi Moore.