A cineasta Rosa Coutinho Cabral, que apresenta quarta-feira o filme premiado “Coração Negro”, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, prepara um documentário sobre a escritora, poetisa e ativista Natália Correia (1923-1993), intitulado “A Mulher que Morreu de Pé”.
Em entrevista à agência Lusa, a realizadora avançou que está a preparar o documentário, admitindo que este é um projeto que lhe interessa porque Natália Correia “é conterrânea, porque é uma grande poeta e dramaturga e porque foi uma mulher de intervenção”.
“Fazer cinema é um ato político”, uma dimensão que surge, naturalmente, no novo projeto que a cineasta micaelense prepara, mas também em “Coração Negro” e em todos os filmes que ainda espera fazer, admite.
“A forma de fazer um filme e a forma de mostrar aquilo que se conta, como é que eu decido os planos, como é que eu os considero importantes, como é que eu os quero fazer, é, de facto, um gesto, é uma política”, afirmou.
Em “Coração Negro”, de 2017, mostra a morte de uma relação, mas também “toda a solidariedade que é possível ter pelo sofrimento das pessoas”, evidenciando que, no sofrimento, “nada é linear, nada tem uma causa-efeito tão concreta e tão romanesca como são [é] normalmente apresentadas [apresentado]”.
A ação desenrola-se na ilha do Pico, onde o casal, interpretado por Maria Galhardo e João Cabral, está a reconstruir uma casa, uma escolha que Rosa Coutinho Cabral diz ter sido intencional, porque “toda a morfologia do Pico, a geologia do Pico, é tão intensa e é tão particular”, que “muito rapidamente, estas características da ilha tornaram-se uma metáfora da violência interna daquele casal, da violência que aquele casal vive”.
O filme arrecadou vários prémios, dos quais se destacam o de melhor realizador, no Krajina Film Festival, melhor filme no Festival ARFF – Amsterdam, e melhores atores para Maria Galhardo e João Cabral, no Best Actos Film Festival, em São Francisco.
O reconhecimento internacional é “muito gratificante, depois de um esforço tão grande que foi fazer este filme, que, realmente, teve uma rodagem longa, algo atribulada, com muito pouco dinheiro”, explicou, mas lamenta que, em Portugal, o mercado seja “muito fechado e muito injusto, às vezes”.
Da filmografia de Rosa Coutinho Cabral constam, também, os documentários “Pé San Ié – O Poeta de Macau”, sobre o poeta Camilo Pessanha, e “Arrivederci Macau”, sobre o arquiteto Manuel Vicente, bem como as longas-metragens “Cães sem Coleira”, “Lavado em Lágrimas” e “Serenidade”.
O seu novo projeto, “A Mulher que Morreu de Pé”, leva-a, novamente, aos Açores, desta vez à sua terra natal, Ponta Delgada, onde apresenta “Coração Negro”, numa sessão inicialmente prevista para quinta-feira, mas que foi antecipada para quarta-feira, no Teatro Micaelense.
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