O aclamado realizador Xavier Dolan tem medo que os cinemas mudem para sempre por causa da pandemia e neles deixem de ter lugar muitos filmes, nomeadamente aqueles que tem feito ao longo da carreira.
Aos 30 anos, o "enfant terrible" do cinema canadiano estreou-se com "Como Matei a Minha Mãe" (2009) e em menos de uma década acumulou um currículo impressionante e premiado, nomeadamente no Festival de Cannes, graças a títulos como "Laurence Para Sempre" (2012), "Tom na Quinta" (2013) e "Mamã" (2014).
Numa entrevista recente, Xavier Dolan revelou estar a trabalhar em três projetos bem diferentes, desde uma minissérie a um filme de terror no final do século XIX e um drama social.
Mas acrescentou, "por agora, o que vem a seguir é isto: esperar que o mundo se sinta melhor para que seja permitido fazer filmes como devemos; de mãos dadas".
É a pandemia que preocupa o realizador, nomeadamente o seu impacto no hábito de ir ao cinema, ameaçado pela combinação entre o fecho das salas e a ascensão do streaming.
Apesar de muitas salas estarem abertas desde junho, só nos últimos dias, com a estreia de "Tenet", o primeiro "blockbuster" de verão de Hollywood, é que regressaram muitos espectadores.
À semelhança de vários colegas, Xavier Dolan receia que a situação dos últimos meses acelere uma mudança drástica e o grande ecrã deixe de ser o local para ver o seu tipo de cinema.
"Olhando à volta e até para mim mesmo, vejo que o nosso desejo de união tem consistentemente diminuído e a nossa propensão para o entretenimento em confinamento tem aumentado", explicou.
"Mas agora, se nem sequer tivermos escolha, tenho medo que os cinemas desapareçam. Ou continuem, mas tornem-se o espaço exclusivo dos grandes filmes dos estúdios — com todos os filmes independentes e intermédios relegados para os serviços online", acrescentou.
"E isso é triste. Porque ninguém, no fundo, filma para iPads", concluiu.
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