Haverá maior sinal do impacto de um filme do que ainda se falar dele tantos anos mais tarde?

Essa é a situação de Adrian Lyne, que está a falar sobre "Flashdance" a propósito dos 40 anos da estreia nos cinemas e do lançamento de uma nova edição em 4K Ultra HD Blu-ray.

"Vi o filme há uns dois dias e fiquei menos envergonhado do que pensei que ficaria", admitiu o realizador britânico, agora com 82 anos, numa entrevista ao Yahoo Entertainment.

"Na verdade, achei que era muito divertido. Mas, acima de tudo, fiquei contente com a Jennifer Beals, porque acho que ela tem uma espécie de vulnerabilidade que funcionou. Quer dizer, [o filme] sempre foi uma história de conto de fadas", continuou.

A agradável surpresa do realizador com aquele que era apenas o segundo filme da carreira tem uma explicação: ele próprio aceitou o projeto com relutância porque tinha perdido para John Carpenter a oportunidade de dirigir "Starman", um filme de ficção científica com Jeff Bridges.

"Achei a ideia um pouco frágil" é como descreve o enredo à volta de Alex Owens (Jennifer Beals), uma bela e determinada rapariga de 18 anos que trabalhava como soldadora durante o dia e como dançarina exótica num clube noturno, mas queria tornar-se independente, encontrar o amor e realizar o seu sonho: entrar no Conservatório.

"É completamente absurdo. É completamente absurdo. Claro que é. Mas safámo-nos com isso", garante.

O drama romântico teve más sessões de teste com público, o que contribuiu para a falta de confiança do estúdio, que pouco investiu na promoção.

As reações dos críticos de cinema também foram arrasadoras: Lyne guardou um recorte de um jornal onde um crítico proclamava 'Não procure publicidade neste filme. Basta procurar por sinais estratégicos de poluição".

Com um orçamento de sete milhões de dólares, "Flashdance" apenas arrecadou quatro milhões no fim de semana de estreia, antes de começar a funcionar o boca a boa entre o público que o levaria aos 96 milhões nos EUA e mais de 200 em todo o mundo... beneficiando da sua estética "MTV", canal que fora lançado apenas dois anos antes, acabou por se tornar o terceiro maior sucesso de bilheteira de 1983.

Outro fenómeno foram as vendas da banda sonora com os temas "Flashdance… What a Feeling", de Irene Cara (que ganharia o Óscar), ou "Maniac", interpretado por Michael Sembello (também nomeada para as estatuetas).

O sucesso levaria o realizador a outro patamar em Hollywood e projetos como "Nove Semanas e Meia" (1986), "Atracção Fatal" (1987) e "Proposta Indecente" (1993).

Em outubro de 2020, a Paramount anunciou a intenção de adaptar o filme ao pequeno ecrã para a sua plataforma de streaming.